Tudo começa quando o velho Geppetto decide fazer um boneco capaz de dançar e de dar piruetas com o qual possa ganhar a vida. E começa porque o pedaço de madeira que usa para o esculpir é bastante... especial. Mal acaba de esculpir o boneco e logo este sai de casa a correr e a fazer traquinices. Mas Geppetto ama o boneco como a um filho e, por isso, não basta a primeira tropelia para o demover dos seus afectos. Só que Pinóquio não é apenas um boneco irrequieto - é também mandrião, pouco aplicado e facilmente se deixa influenciar pelas más companhias. E, por isso, apesar do seu bom coração, os sarilhos sucedem-se... e Pinóquio dá por si, uma e outra vez, arrependido... mas pronto a cair numa nova tentação.
Não é necessário, à partida, dizer muito sobre esta história - e, principalmente, sobre este curioso protagonista - para o fazer lembrar a leitores de todas as idades. Todos conhecemos o Pinóquio, numa ou noutra versão. Mas, se olharmos para a versão da história com que crescemos... bem, talvez não seja bem a original, pois não? É esta a primeira ideia a sobressair desta leitura - a de que, com o passar do tempo e as múltiplas versões, a história de Pinóquio foi sendo moldada e reajustada, ao ponto de certas partes da história não serem assim tão fáceis de reconhecer.
Mas, seja qual for a versão da história que conhecemos, é fácil identificar os traços característicos do pequeno Pinóquio: a traquinice, a tendência para se deixar levar por maus caminhos, a teimosia. Ah, claro, e o nariz que cresce com as mentiras. E descobrir a história na base das mil e uma adaptações permite também uma nova perspectiva da história. O Pinóquio de Collodi pode ter, no fundo, bom coração, mas também consegue ser bastante cruel e as consequências das suas escolhas são também, por vezes, bastante duras. Talvez por isso, a lição subjacente às suas aventuras saia muito mais vincada desta versão original do que de qualquer das versões mais leves da história.
E, bem, as lições de moral são mais que evidentes. Mas a história é muito mais do que isso. É um conjunto de aventuras empolgantes e caricatas, em que muitos dos acontecimentos podem - aos olhos de um leitor adulto - parecer altamente improváveis, mas não deixam por isso de ser deliciosamente cativantes. E, num livro onde tudo parece igualmente estranho e maravilhoso, as aventuras de Pinóquio, conseguem, na sua inocência e rebeldia, acordar sorrisos e gargalhadas, comover nos momentos certos e, enfim, fazer lembrar tempos mais inocentes, sem perder de vista que tudo na vida tem consequências.
Tudo somado, a impressão que fica desta leitura é a de um regresso a uma história conhecida - que é também uma revelação, pois há partes da história que não são assim tão familiares. E esta mistura entre o novo e o semelhante, aliada ao simples facto de se ter nas mãos uma boa história, torna ainda mais cativante esta tão divertida aventura. Improvável, mas estranhamente delicioso, um óptimo livro para leitores de todas as idades.
Título: As Aventuras de Pinóquio
Autor: Carlo Collodi
Origem: Recebido para crítica
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