William Curtis prometeu à filha que nunca a abandonaria, mas o acidente que lhe tira a vida demasiado cedo fez com que essa promessa se tornasse impossível de cumprir. Agora, Will vê-se morto e perante uma decisão inevitável: passar para o outro lado ou manter-se presente enquanto espírito para acompanhar a filha, como sempre prometeu que faria. O problema é que a decisão não é assim tão simples: não só o tempo que tem para decidir é limitado como as suas tentativas de comunicar com a filha podem influenciar o futuro de forma irreversível. E, invisível aos olhos de todos excepto os da filha, Will pergunta-se de que forma poderá tomar a decisão certa - principalmente quando os segredos da família começam a vir à superfície.
História de morte e de vida para além da morte, este é um livro que tem como principal ponto forte a capacidade de emocionar. Por um lado, o dilema de Will perante a promessa que fez à filha de seis anos, desperta, desde logo, uma certa empatia para com a sua situação. E depois, à medida que novas revelações vão surgindo e a vida familiar dos que ficaram começa a moldar-se às circunstâncias, também as outras personagens - e as dificuldades que têm de atravessar - começam a despertar simpatia e compreensão.
Isto não quer dizer que todas as personagens sejam igualmente empáticas. Sendo certo que há nesta história várias figuras marcantes, com particular destaque para a pequena Ella, também as há que não chegam a revelar verdadeiramente os seus melhores traços, como é o caso de Hardy. Neste caso, fica inclusive uma certa sensação de curiosidade insatisfeita, pois teria sido interessante ver o que foi que o transformou na figura que é. Ainda assim, há um aspecto que sobressai na construção das personagens, e que contribui em muito para o impacto final. Mais ou menos carismáticas, mais ou menos vulneráveis, há uma coisa que todas as personagens têm em comum: nenhuma delas é perfeita. E isso faz com que seja possível assimilar os progressos da sua jornada, os momentos de colapso e de crescimento, de revolta e de compreensão. Torna-as humanas, portanto. Torna-as reais.
Quanto ao enredo propriamente dito, sobressaem dois aspectos: primeiro, a capacidade de construir uma história sobre a vida após a morte sem se cingir demasiado aos dogmas de um sistema específico de crenças; e depois, o potencial de evolução das personagens ao longo do enredo. Todo o percurso de Will e da família é uma história de perdas e de superação, em graus e contextos diferentes. E, a cada nova descoberta, a cada novo passo rumo à decisão (de Will e não só), há algum tipo de crescimento a acontecer. Will aprende a aceitar o que lhe aconteceu e a ver para lá de si mesmo para fazer a melhor escolha. E esse percurso estende-se também à sua família, que descobre a união para lá da perda e dos segredos.
A impressão que fica é, portanto, a de uma história terna, cativante e inocente quanto baste. Uma história de amor para além da morte e uma lembrança de que, na vida, as coisas mais importantes nem sempre são as que julgamos. Gostei.
Título: Tempo de Dizer Adeus
Autor: S.D. Robertson
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário