domingo, 10 de fevereiro de 2013

Mafalda de Saboia (Diana de Cadaval)

Nasceu Matilde de Mouriana e sempre soube que o seu destino estava numa corte estrangeira. Mas, ao chegar a Portugal, com um novo nome e um papel a desempenhar no reconhecimento do reino, a agora rainha Mafalda está longe de imaginar que a sua vida seria de pouco mais que infelicidade. Tratada como um objecto, desejada apenas para fins políticos e para garantir a continuidade da dinastia, tenta elevar os interesses do reino e a vontade de Deus acima dos seus próprios, suportando com paciência o temperamento intempestivo do marido e a solidão que parece ser a sua única companhia. Aprende a ser rainha, mais que mãe e mulher, mas guarda por dentro a infelicidade da sua condição.
Relativamente breve e narrado na primeira pessoa, este livro centra-se essencialmente na vida de D. Mafalda e, portanto, na sua perspectiva dos principais acontecimentos históricos do seu tempo. Isto leva a que acontecimentos como a conquista de Santarém e de Lisboa sejam desenvolvidos de forma relativamente sucinta, já que o relato é condicionado pelo ponto de vista da protagonista. Mas isto não torna a história menos interessante. Há uma boa contextualização e uma considerável componente descritiva a servir de base à história da rainha, o que mantém presente o contexto da época, mesmo nos factos menos desenvolvidos. Além disso, ao contar a história do ponto de vista de D. Mafalda, a autora constrói um retrato mais próximo da sua protagonista, sendo fácil compreender, quer pelo tom como a história é narrada, quer pelos ocasionais momentos emotivos, a melancolia que prevalece nas emoções da rainha.
É D. Mafalda a personagem em destaque, daí que seja a sua caracterização a mais completa, já que os que a rodeiam são apresentados segundo as suas percepções. Há, ainda assim, algumas personalidades cativantes em seu redor, com destaque para D. Teresa (cujo segredo acaba por ser uma das revelações mais interessantes), a contrastar com figuras como a do rei, cujos defeitos parecem estar em evidência neste livro.
Ainda um outro ponto interessante está na forma como a autora conjuga os factos históricos com uma narrativa que tenta ser um relato, o mais pessoal possível, da vida de Mafalda, acrescentando-lhe ainda alguns elementos lendários. A presença do divino é quase inevitável, tendo em conta as lendas associadas ao fundador, e a forma como a autora o associa aos factos conhecidos, contribui para manter a envolvência do enredo, tornando cativantes mesmo os acontecimentos menos desenvolvidos.
Envolvente e de leitura agradável, este é um livro que conjuga um bom contexto histórico (ainda que, nalguns momentos, exposto de forma relativamente sucinta) com os elementos mais interessantes das lendas e uma perspectiva pessoal e humana da sua protagonista. O resultado é uma história cativante. E uma boa leitura.

1 comentário:

  1. Descobri o seu blogue por acaso. Gostaria de dar os parabéns pelas críticas aprofundadas, minuciosas, honestas que faz. As minhas opiniões coincidem, frequentemente, com as suas, em livros que temos em comum. Parabéns!

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