Vigiada a todo o instante pela atenção indesejada de Rafe, um colega de trabalho, Clarissa sabe que tem de tomar uma atitude para acabar com a situação. Mas, apesar de todos os incidentes - presentes indesejados, mensagens perturbadoras, perseguição constante - Clarissa receia não ter ainda provas suficientes. É por isso que vê as sete semanas do julgamento em que terá de servir como jurada como um refúgio para si. Porém, a solução não é assim tão simples e, à medida que acompanha o caso de Carlotta Lockyer, Clarissa começa a ver as fragilidades na sua própria história, ao mesmo tempo que, sem saber o que fazer, vê os comportamentos de Rafe tornarem-se cada vez mais ameaçadores...
Perturbador seria um bom adjectivo para caracterizar este livro. E por duas razões. A primeira é a história propriamente dita, com o comportamento assustador de Rafe e a situação cada vez mais difícil de Clarissa a reflectir um cenário verdadeiramente terrível. A outra razão prende-se com as questões evocadas por essa mesma história. O enredo abre com a perseguição já a acontecer e com Clarissa tendo perfeito conhecimento da situação. Ainda assim, todas as acções parecem insuficientes e mesmo a reacção do sistema - reflectida tanto no caso de Clarissa, como no de Carlotta - leva a questionar a eficácia dos conselhos e das medidas possíveis. Assim, o que acontece é que não só a história propriamente dita perturba, como o mesmo acontece com as possibilidades e as questões que desperta.
Tendo isto em conta, é especialmente interessante notar que, apesar de todo este lado muito sombrio, a leitura nunca deixa de ser cativante. Também isto se deve a duas razões, sendo a primeira a empatia que facilmente se sente relativamente às circunstâncias de Clarissa, o que mantém viva a vontade de saber de que forma se resolverá a situação, e a outra os sucessivos pequenos mistérios que vão sendo acrescentados ao enredo. O estranho comportamento de Robert, o que aconteceu a Laura e que decisão será tomada no julgamento de Carlotta acrescentam à história de Clarissa uma maior complexidade.
Talvez devido a esta convergência de múltiplos elementos, fica a sensação de que algumas perguntas são deixadas sem resposta, principalmente no que diz respeito a Robert. Ainda assim, na linha principal do enredo, que é a história de Clarissa e do seu perseguidor, nada de essencial é deixado por dizer. E, se o final não é exactamente o mais desejado, não deixa, ainda assim, de ser satisfatório.
Intenso e perturbador, este é, pois, um livro sombrio, mas cativante, com uma história que levanta muitas e importantes questões e que, na forma como é contada, mas, principalmente, na realidade que reflecte, se entranha na memória do leitor. Uma boa leitura, portanto.
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