Perdition é um lugar de violência. E, sendo a prisão
flutuante onde os piores criminosos são encarcerados para o resto da vida, é
também um lugar de desespero. Sem guardas e com muito poucas regras, tornou-se
um território em disputa entre diferentes líderes, numa guerra sem tréguas.
Dresdemona Devos é uma das rainhas do lugar e o seu território é ligeiramente
mais civilizado que os restantes, o que desperta nos outros líderes todo o
interesse em desafiá-la. Mas, enquanto se constroem planos de defesa e ideias
para possíveis alianças, a melhor arma de Dred – e talvez a mais perigosa –
entra na sua vida. Jael, recentemente chegado à prisão, tem capacidades
inigualáveis, mas também grandes demónios a combater. Além disso, acreditar na
lealdade de alguém num lugar como Perdition é sempre uma escolha arriscada.
Apesar de estar relacionada com a série Sirantha Jax, esta
nova aventura começa brilhantemente uma nova história. Ainda que Jael seja uma
personagem da outra série, e apesar das ocasionais referências à sua ligação
com Jax, não é necessário ler a série anterior para compreender esta. O cenário
é fácil de assimilar, o mesmo acontecendo com as personagens e as relações
estabelecidas. É certo que ler este livro desperta curiosidade para o que
aconteceu antes, mas o facto é que a história vive perfeitamente por si
própria.
Com todo o enredo a decorrer num cenário de confinamento e
violência, um dos aspectos mais interessantes nesta história é a forma como
conjuga o melhor e o pior da humanidade. Os condenados de Perdition são
igualmente capazes de traição e assassínio ou de auto-sacrifício e de lealdade.
Isto é uma boa parte do que torna este mundo fascinante. A corte de Dred é
feita de criminosos, mas de criminosos que, de facto, acreditam na sua lenda. O
delicado equilíbrio na construção das interacções entre a rainha e os seus
súbditos dá forma a uma corte que encaixa perfeitamente no cenário de desolação
em que se situa, mas que se revela mais complexa e mais humana do que, à
primeira vista, seria de esperar.
Quanto aos protagonistas, tanto Dred como Jael têm algo de
fascinante. Jael, com a história do seu passado e a natureza da sua criação,
luta contra o demónio da diferença e conquista um lugar no coração do leitor ao
descobrir o seu lugar no mais sombrio dos cenários. E, quanto a Dred, o
equilíbrio entre a lenda e a sua verdadeira natureza revela um carisma e uma
determinação especialmente admiráveis tendo em conta as suas circunstâncias.
Assim, com um cenário impressionante e um conjunto de
personagens fortes, Perdition surge como um muito bom início para uma série
repleta de potencial. Com acção constante, a medida certa de humor e um toque
de emoção que torna as personagens mais humanas, vale a pena, definitivamente,
ler este livro. Recomendo.
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