sábado, 10 de outubro de 2015

Persuasão (Jane Austen)

Anne Elliot sabe que já não tem a juventude a seu favor e que a própria família não deposita em si grandes esperanças. Habituou-se a uma vida serena, sem sobressaltos de maior. Mas agora que a situação financeira do pai se tornou insustentável e no momento em que este se vê obrigado a arrendar Kellynch, Anne vê-se perante o regresso de uma memória que julgava ter apagado da memória. O novo inquilino faz parte das relações do comandante Frederick Wentworth, o mesmo homem que, em tempos, Anne foi persuadida a rejeitar por falta de posses. Agora, o reencontro pode ser constrangedor - ou pior. Porque a verdade é que Anne não o esqueceu, mas não sabe se ele terá ultrapassado a sua cobardia.
À semelhança de outros livros de Jane Austen, também em Persuasão há um casal que se destaca, sem que por isso o seu romance seja o centro exclusivo da narrativa. Aliás, as relações entre Anne e o comandante Wentworth são apenas uma parte de uma história que, percorrendo diferentes relações - familiares, de amizade, de simples cortesia ou mesmo de interesse - , é mais o retrato de um meio social do que propriamente a história de uma ou várias personagens. 
Isto tem um lado bom e um lado menos bom. O lado bom é, claro, a abertura para um conjunto de formas de pensar que, no seu todo, caracterizam a vivência de um determinado meio no seu tempo. Os preconceitos, os critérios em que se baseia a escolha de uma relação social, as próprias interacções familiares, atribuindo aos diferentes elementos um papel mais ou menos relevante, tudo isto contribui para caracterizar a sociedade do tempo em que decorre o enredo. Além disso, ver o que as personagens consideram ou não aceitável permite também uma ponderação sobre as mudanças que o tempo operou.
O lado menos bom é que, talvez para realçar estes traços mais vincados - o preconceito, as relações por interesse, a superioridade de posição - , há várias personagens cuja caracterização é menos que agradável. A posição de Anne, aliás, permite realçar os traços negativos de várias personagens, desde as motivações do Sr. Elliot à forma como as irmãs de Anne a vêem como, de certa forma, menor. Há, pois, umas quantas personagens que despertam mais aversão que empatia. 
Felizmente, há também personagens genuinamente cativantes e a evolução da história de Anne com o comandante Wentworth culmina num final que, não sendo de forma alguma inesperado, cativa pela estranha beleza do se auge. E assim, as irritações causadas por algumas personagens acabam por ser compensadas pelo valor das outras.
Ao mesmo tempo história de amor e retrato de um certo meio social, eis, portanto, um livro que, nem sempre sendo de leitura fácil, não deixa de ser, ainda assim, muito relevante. E que, cativante nos melhores momentos e interessante em praticamente tudo, acaba por proporcionar uma boa leitura. 

Título: Persuasão
Autora: Jane Austen
Origem: Aquisição pessoal

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