quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A Noiva Judia (Nuno Nepomuceno)

Quando o cadáver de um escritor famoso é encontrado numa praia deserta, com evidentes sinais de violência, o caso rapidamente se torna notícia. Assim, quando, nessa mesma noite, um jovem confessa o homicídio como alegada legítima defesa contra o assédio do escritor, a polícia não hesita em aceitar essa confissão. Pelo menos aparentemente. É que há provas que apontam para a inocência do suposto assassino - e a história da vítima está cheia de segredos tortuosos. É a notícia desta morte que desperta o interesse da jornalista Diana Santos Silva - e, inevitavelmente, do marido, o professor Afonso Catalão. O que nenhum deles sabe ainda é quantas teias convergem para esse mesmo mistério...
Existem certos aspetos que, ao sexto volume de uma série, são, à partida, expectáveis: uma certa familiaridade com as personagens, um certo conhecimento do que as move, certos hábitos e formas de reagir que ditarão, à partida, alguns dos seus comportamentos. E, tendo tudo isto em conta, uma das primeiras coisas a sobressair deste volume final é a forma como tudo isso se verifica, sem que enredo e personagens percam a sua capacidade de surpreender. Sim, conhecemos Afonso e o que o move, conhecemos as suas relações os seus fantasmas. Conhecemos Diana e a sua infinita curiosidade. E conhecemos também muitas das misteriosas figuras com que se cruzam. Mas a verdade é que esta fase final do percurso, onde múltiplas ligações confluem para uma série de poderosos desenvolvimentos, não deixa, ainda assim, de ser toda ela feita de surpresas, de momentos intensos e de um crescendo de intensidade que culmina num final praticamente perfeito.
Tudo neste livro é equilibrado. O enredo, com a sua sucessão de reviravoltas, intrigas e mistérios, entrelaçando os percursos das várias personagens de forma intensa e sempre intrigante. A construção das personagens, com os fantasmas das suas vidas a repercutirem no presente as consequências das suas escolhas. E a própria forma de apresentar tudo isto, com momentos de ação e de emoção, de introspeção e até de uma certa divertida leveza. É o tipo de livro em que as páginas quase voam, dada a facilidade com que nos transporta para o seu interior.
Há ainda dois últimos pontos que importa referir. O primeiro prende-se com o facto de ser o sexto - e último - volume de uma série. Se é certo que alguns dos volumes são relativamente independentes, este livro final é o exemplo perfeito do porquê de valer a pena conhecê-los a todos e por ordem. É para este ponto que tudo converge, é aqui que todas as relações se entrelaçam e o seu verdadeiro impacto vem tanto do percurso que traça como do conhecimento e da familiaridade que temos já com estas personagens. É memorável por si só, é certo. Mas sê-lo-á ainda mais para quem já conhecer o que vem de trás.
E o último ponto não será uma surpresa para quem acompanha o autor, e particularmente esta série. Pode ser o último volume, pode ser o ponto para onde todas as linhas confluem, mas a conclusão nunca poderá ser linear e absoluta. Nunca é. A forma como tudo termina dá realmente resposta a muitos dos mistérios. Mas deixa o suficiente de enigmas e de possibilidades para ficar na imaginação do leitor. E insinuar, talvez, a ténue esperança de um possível reencontro.
O que dizer, então, desta última notável viagem? Que nada lhe falta e que tem tudo na medida certa. Mistério, perigo, intensidade, emoção. Personalidades complexas, mas fascinantes e humanas. E um percurso que, surpreendente da primeira à última página, marca em todos os aspetos, nas pequenas e nas grandes revelações. Brilhante, em suma. Como sempre.

Sem comentários:

Enviar um comentário