Mãos que falam com pressa (Eduarda de Andrade Mendes)

Entre a poesia e a prosa poética, num registo muito pessoal e com uma linguagem algo elaborada, este livro reúne uma série de pequenos textos, representativos de diferentes visões e estados de espírito, numa perspectiva muito própria e onde a emoção se liga a imagens bastante peculiares. Imagens que, num curioso contraste entre situações de um quotidiano normal e cenários com um toque de surreal, ficam na memória como reflexo de uma certa emoção que toma forma de cenários invulgares.

Feito de breves textos num volume relativamente pequeno, a grande força deste livro é na conjugação entre uma escrita muito própria e a evocação de sentimentos pessoais numa forma que mistura estranheza e familiaridade. Frases elaboradas, imagens estranhas e uma certa medida de reflexão entrelaçada nas imagens e nos sentimentos são algo que, transparecendo de cada texto, ganha mais força quando considerado na totalidade. Há uma certa melancolia, mas também a alegria de pequenas coisas. Paisagens de sonho e de pesadelo, visões da realidade global e das experiências pessoais. E o resultado é invulgar. Cativante. Estranho, nas perspectivas mais rebuscadas. Mas sempre cativante.

Também de referir é a alternância entre poesia e prosa poética, sendo que, curiosamente, acabam por ser os poemas os textos mais simples. Cria-se, assim, ainda um outro contraste, o de textos mais breves, com visões mais claras, com o dos devaneios mais elaborados, mais complexos na linguagem e nos cenários que constroem.

Trata-se, portanto, de um livro que, apesar da sua brevidade, tem muito para descobrir. Um livro onde a forma de escrita causa alguma estranheza, mas dá também um toque de diferença. E onde, apesar dessas pequenas complexidades, há muito de pessoal e de emotivo. Gostei.