domingo, 4 de dezembro de 2011

A Torre de Vigia (Ana María Matute)

Situado num ambiente medieval algo indefinido, e onde o improvável se mistura com a normalidade, A Torre de Vigia acompanha, pela voz do protagonista, os anos de crescimento e de aprendizagem de um rapaz destinado a tornar-se cavaleiro. Mas não são as suas experiências nem as aventuras o ponto central deste livro. Num estilo muito pausado, introspectivo, onde sonhos e visões se confundem, por vezes, com o mundo real, é de saudade e de solidão, de resignação e de ódio, de memórias e de um necessário esquecimento que se define a essência deste romance.
Apesar do cenário em que decorre, esta narrativa corresponde em muito pouco ao que seria de esperar de um romance de cavalaria. Na verdade, o ambiente e as figuras que o povoam são simplesmente uma base para um tipo de reflexão bastante diferente. O protagonista pondera e atormenta-se com o que define a sua natureza, com o papel que parece representar no mundo, com a verdadeira essência dos que o rodeiam... mas, acima de tudo, com o significado da sua vida, quando todos esperam de si algo que não consegue vislumbrar e quando ele mesmo sabe que precisa de ir mais além... mas não sabe onde é o além. O resultado é, portanto, um livro em que a acção não é, de forma alguma, o elemento predominante e onde a reflexão e a introspecção se conjugam com sonhos e visões algo surreais para criar um todo que, apesar dos seus momentos mais confusos, consegue, nos grandes momentos, comover e apelar à reflexão.
Ainda assim, o que se destaca é a beleza da escrita de Ana María Matute. Num livro algo denso, com pouco de diálogo e descrições bastante elaboradas, é a forma como a autora constrói os seus cenários, as suas reflexões, a sua visão das personagens que realmente marca, tanto pela construção de ambientes e situações, como na forma em que estas evocam a nostalgia e a solidão que são, afinal, os sentimentos predominantes do livro.
Não é uma leitura fácil, é certo. O ritmo pausado e os vários momentos em que sonho e realidade se confundem exigem atenção constante. Trata-se, ainda assim, de uma obra que marca pela quase poética beleza da escrita e pela força dos grandes momentos. Gostei, portanto.

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