Incapaz de se enquadrar na sociedade em que se encontra, Júlio procura uma terapeuta. Mas Mafalda, com uma visão do mundo tão diferente da sua, toca-o de uma forma bastante mais profunda que a da simples relação profissional. E o sentimento parece ser recíproco. Acompanhando o ponto de vista de ambos os protagonistas, Não Fomos Nós Dois é a história das suas impressões, emoções e convicções... e como os seus caminhos se unem e separam de forma tão simples quanto marcante.
Um dos primeiros elementos a surpreender nesta leitura é a escrita. Num estilo muito próprio e peculiar em que, mais que uma linha narrativa (que existe, ainda assim), pensamentos e circunstâncias parecem surgir ao ritmo do impacto que exercem sobre os seus protagonistas. Mais que o contacto entre paciente e terapeuta, ou até mais que as relações que estes estabelecem para além do contacto entre ambos, cada acontecimento serve de base para uma avaliação dos seus valores e das suas reflexões. E é aqui que o contraste se define, já que, com tão diferentes posturas perante a vida, Júlio e Mafalda pertencem, apesar da relativa atracção, a mundos diferentes.
Trata-se de uma história relativamente breve, onde os acontecimentos passam para segundo plano ante convicções e emoções. Ainda assim, esta quase ambiguidade dos acontecimentos resulta inesperadamente bem. Na brevidade do texto, surgem contrastes e pensamentos que poderiam pertencer a qualquer um e isso basta para construir uma empatia que se torna mais forte pelo final inesperado. É certo que seria interessante ver mais sobre este duo de protagonistas, mas o essencial está lá.
Breve e com muito de pessoal, esta é uma história que, de leitura rápida e com um estilo de escrita muito próprio, fica na memória principalmente pela força das reflexões. Cativante e agradável, gostei.
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