Abril de 1961. Dois rapazes tropeçam num cadáver. A mulher foi brutalmente assassinada e o marido prontamente confessa a culpa. Mas há algo que não bate certo nas explicações apresentadas e, por isso, Paulo e Eduardo, juntamente com um velho morador do asilo próximo, iniciam a sua própria investigação. Há, contudo, quem não queira que a verdade seja descoberta e serão muitos os obstáculos no caminho dos três "detectives".
Um dos aspectos mais marcantes deste livro é a forma como o que parece ser, simplesmente, a história de um crime rapidamente evolui para algo mais. Na interacção entre os dois rapazes, com vidas familiares tão diferentes, mas ambos com uma curiosidade insaciável, desenvolve-se uma história de amizade e lealdade. Na história de quem foi a vítima para o mundo em seu redor começa uma complexa teia de interesses e intrigas onde os poderosos comandam e os restantes fazem o que tiverem de fazer. E no encontro destes dois elementos, aos quais se junta uma certa mágoa construída na história do velho, forma-se uma história complexa, com uma visão algo perturbadora (mas com bastante de real) da sociedade e um percurso de crescimento e de aceitação do mundo como ele é: tudo, menos perfeito.
A este enredo cativante e com muito sobre que reflectir alia-se um estilo de escrita agradável, directo e com a medida certa de emoção, contrastando com as complexidades de uma narrativa onde ninguém é o que parece e onde as soluções nunca são as ideias. Há, aliás, mistérios que ficam resolvidos para o leitor, mas que permanecem como um fantasma na vida das personagens. O que aconteceu realmente a partir da morte de Anita (ou Aparecida) é apenas uma parte de um enredo feito de intriga e de manipulação. Tudo isto contado de forma magistral.
Trata-se, portanto, de uma leitura marcante, uma narrativa cheia de surpresas, com personagens cativantes e um reflexo intenso das complexidades causadas pela movimentação de interesses. Muito bom.
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