Cobaia é a porquinha-da-índia do departamento de comunicação da empresa. Mas não é uma mascote. Não, pertence mesmo ao grupo de trabalhadores do escritório e o facto de ser, bem, uma porquinha-da-índia não representa qualquer limitação para ela. Faz café, escreve newsletters, atende telefonemas, pesquisa sintomas de doenças no Google... e vai passando pela vida, a ver as coisas acontecer. Mas há mudanças em curso no escritório. Fala-se em cortes, em novas estratégias, em reuniões e colaborações com a sede. E, como se não bastasse, o ex-namorado de Cobaia quer reestabelecer o contacto. Tudo muda e, às vezes, a Cobaia sente-se perdida. Mas talvez o que a espera no futuro esteja lá para lhe provar que a mudança é boa...
Uma boa palavra para começar a descrever este livro será, talvez, peculiar. Afinal, basta a premissa para ficar com essa impressão. Cobaia, uma porquinha-da-índia, a trabalhar num escritório. Mas há algo que rapidamente se associa a esta particularidade e que acabará por se revelar o aspecto mais cativante deste romance: é que, apesar da inevitável estranheza, tudo parece fluir com uma interessante naturalidade, como se o lugar de Cobaia fosse precisamente aquele, o ponto de partida ideal para as descobertas que terá de fazer.
Ora, esta peculiaridade confere também à história uma certa e intrigante leveza, pois, se analisarmos os temas subjacentes a vida no escritório, há algumas verdades difíceis sob a capa da aparente descontracção. E este contraste serve para fazer pensar, pois a facilidade com que a equipa do escritório fala em cortes, em despedimentos, em esgotamentos e doenças, não deixa de ter um certo efeito de choque, como que lembrando a importância que essas coisas efectivamente têm. Ao fazê-lo sem nunca perder de vista a leveza e o sentido de humor que definem o percurso da Cobaia, a autora consegue falar de coisas sérias a brincar, mas sem lhes retirar a devida relevância.
É uma história de mudança, ou melhor, uma história da vida enquanto constante mudança. E, assim sendo, faz sentido o movimento de pessoas que partem para que outras possam chegar e também o facto de muito ser deixado em aberto. É inevitável, sim, a sensação de curiosidade insatisfeita, principalmente numa história em que há tantas vidas a mudar. Ainda assim, não deixa de ser adequada a forma como tudo termina, abrindo novos caminhos que são deixados à imaginação do leitor.
Termino, por isso, como comecei: com a impressão de uma leitura peculiar, em que o primeiro impacto é de estranheza, mas que rapidamente cativa pela abordagem descontraída, mas não simplista, a várias questões pertinentes do mundo do trabalho. Cativante e surpreendente, uma boa história e uma muito agradável surpresa.
Título: A Vida de uma Porquinha-da-Índia no Escritório
Autora: Paulien Cornelisse
Origem: Recebido para crítica
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