Começa como um segredo, mas rapidamente se transforma em escândalo. D. João de Mascarenhas e D. Maria da Penha de França de Mendonça e Almada, nobres, casados (com outras pessoas) e com um papel de relevo na corte estão a viver um caso amoroso. E, embora estejam muito longe de ser os únicos, são, porém, os únicos que se recusam a esconder-se sob a capa das aparências e do moralismo. É demasiado grande o amor para se esconder. E assim, entre cartas e encontros, a relação vai-se, aos poucos, aprofundando. Mas, com todos os olhos da corte postos neles, só há um fim possível para o romance...
Bastante breve e contado sobre a forma de cartas trocadas principalmente (mas não só) entre os dois amantes, este é um romance que se centra mais no sentimento e no percurso dos protagonistas do que propriamente no contexto em que se movem. E, porém, o contexto está bem presente, ainda que maioritariamente implícito nas escolhas e pensamentos dos protagonistas. É fácil reconhecer o contraste entre a hipocrisia das aparências e o mundo de relações ocultas que se vão tecendo na corte. É também fácil, principalmente através das cartas dos outros intervenientes, reconhecer o contexto político e de Estado que motiva, em parte, a forma como tudo termina. E assim, embora fique uma certa curiosidade em saber mais sobre o mundo em volta - e, na fase final, a forma como tudo se processa - a informação essencial está lá e o resto... bem, o resto é secundário.
Trata-se, acima de tudo, de uma história de amor e é, por isso, essencialmente de amor que vivem as cartas que dão forma a este romance. E é neste aspecto que sobressai a escrita, pois há um muito delicado equilíbrio entre as inevitáveis facetas práticas do que é, efectivamente, um amor proibido e o amor intenso e exaltado múltiplas vezes professado pelas personagens. O resultado é, ao mesmo tempo, um conjunto de cartas de amor que, contrariamente ao que dizia o poeta, não são nada ridículas, e a percepção gradual de um avanço rumo a uma paixão que é simultaneamente mais forte e de consequências cada vez mais inevitáveis.
Haveria mais a dizer sobre esta história? Provavelmente, ou não fosse o contexto histórico também tão interessante. Mas, ao centrar-se principalmente nos protagonistas e no que têm a dizer um ao outro, este livro consegue criar uma perspectiva diferente: a de um amor em nome do qual quase tudo é possível e os únicos arrependimentos são do que fica por fazer. Faz sentido, pois, que, numa história em que o amor se eleva acima dos compromissos pessoais e das razões de estado, que seja ele a ocupar o lugar de destaque, deixando o resto a outras histórias... ou à imaginação.
Simples, mas equilibrada e com uma voz que facilmente gera empatia entre as personagens e o leitor, eis, pois, uma história de amor que se lê num instante, mas que fica na memória durante muito mais tempo. Breve, mas cativante e com uma intensidade emocional surpreendente, uma boa leitura.
Título: Um Amor Português
Autor: José Jorge Letria
Origem: Recebido para crítica
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