Na ilha de Hart, há um cemitério onde vão parar os que morreram sem nome nem forma de serem identificados. Mas há quem não se conforme com esse duro facto. Quem é ele realmente, ninguém parece saber, mas responde pelo nome de John Doe e, sob a capa do anonimato, recrutou um grupo de colaboradores para o ajudarem a identificar os mortos daquele vasto cemitério. Só a questão nunca é tão simples como parece e muitos dos mortos foram vítimas de algum tipo de violência. E há quem não queira que essa verdade seja descoberta - principalmente por alguém com métodos tão pouco ortodoxos como os de John Doe.
Com um ambiente sombrio que transparece tanto da imagem como dos próprios diálogos e uma história que é toda ela feita de mistérios, a primeira coisa a cativar neste livro é, inevitavelmente, a sensação quase imediata de se estar a entrar num romance policial. Tudo é mistério: os casos anónimos, a forma de actuar do protagonista, as relações e segredos que, nunca sendo propriamente desvendados, parecem ser a força motriz por trás de tudo o que acontece. E, sendo certo que, no fim, ficam inúmeras perguntas sem resposta, como se houvesse toda uma continuidade possível, também o é que esta ambiguidade de motivos se adequa na perfeição ao ambiente de mistério que define todo o livro.
Para esta aura intrigante contribui também o delicado e fascinante equilíbrio entre a imagem e os diálogos. Os tons escuros ajustam-se ao teor sombrio da missão de John Doe - e à sua própria natureza enigmática. Além disso, acção e diálogo atingem também um muito bom equilíbrio, deixando que os actos falem por si, quando necessário, mas revelando (também conforme a necessidade) as vulnerabilidades humanas que tornam tudo mais intenso.
Também não falta acção neste percurso, ou não fossem todas as personagens algo perigosas. E isso, associado à omnipresente aura de mistério e à sensação de haver um lado humano e falível por trás de todos os enigmas, confere à leitura uma intensidade deliciosa que culmina na tal sensação de querer saber muito mais, mas também na impressão de um final adequado.
Somadas as partes, fica a imagem de uma leitura intensa, intrigante e muito, muito misteriosa. Vale a pena, pois, conhecer John Doe e os seus associados. Vale muito a pena.
Título: Potter's Field - O Cemitério dos Esquecidos
Autores: Mark Waid e Paul Azaceta
Origem: Recebido para crítica
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