Vivem-se tempos conturbados. A guerra com os nilfgaardianos despertou uma nova inimizade entre os humanos e as restantes raças e, mais uma vez, parece inevitável um conflito devastador. Movem-se, pois, as diferentes forças e não apenas em combate. Espiões, feiticeiros, os reis e as suas cortes - todos parecem estar dispostos a tudo para defender os seus interesses. E, no meio de tudo, há um mistério: o da Leoazinha de Cintra, que poucos sabem ao certo se vive ou não, mas que está predestinada a um destino maior. Por isso todos querem saber onde está e fazer dela o que mais lhes convier. Só Geralt - e os poucos aliados que lhe restam - poderá proteger essa criança. Mas a que preço?
Deixada para trás a estrutura de várias histórias interligadas, a primeira impressão a destacar-se deste terceiro livro da série é, acima de tudo, a de um estranho contraste. Por um lado, há uma linha mais definida que forma o enredo central e que parece ser a base de todo o livro. Mas, apesar disso, a história está longe de ser linear, acompanhando diferentes personagens e diferentes momentos da história ao mesmo que mantém outros aspectos num persistente mistério. A impressão é como que a de acompanhar as primeiras jogadas de um jogo de xadrez, em que os vários elementos entram em jogo e fazem os seus devidos movimentos - mas em que há muito nas motivações e na estratégia futura que é ainda deixado por revelar.
Ora, isto tem um efeito ambíguo, já que fica a sensação de que este terceiro livro funciona, em grande medida, como um volume de transição. Há avanços, é certo, e avanços muito interessantes, mas, no fim, o que fica na memória são mais as perguntas, os porquês para o que aconteceu e o grande mistério do que poderá vir a seguir. Fica, pois, alguma curiosidade insatisfeita, bem como a vontade de descobrir o que estará para acontecer nos próximos livros.
Isto retira envolvência ao enredo? Não, não propriamente, até porque as coisas que, de facto, acontecem têm um grande impacto. É fácil ficar-se encantado pela estranhamente cativante personalidade de Ciri, pelo seu percurso de aprendizagem e pelos seus estranhos protectores. É fascinante sentir a rede de intrigas apertar-se e, ao mesmo tempo, ver de que forma os protagonistas lidam com isso. E, acima de tudo, é fascinante a forma como Geralt, Yennefer e Jaskier revelam, a cada momento, a verdadeira complexidade das suas naturezas, mostrando-se muito acima das suas respectivas lendas.
No fim, fica a tal mistura de sentimentos face às muitas perguntas que ficaram sem resposta e à vontade de descobrir essas respostas. Mas, principalmente, fica a impressão de um muito intrigante e envolvente avanço numa narrativa que tem ainda muito para revelar. Uma boa leitura, portanto, e uma série para continuar a seguir.
Título: O Sangue dos Elfos
Autor: Andrzej Sapkowski
Origem: Recebido para crítica
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