Meia Paris foi de férias e, por isso, o trabalho na embaixada americana não é propriamente pesado. Mas, quando o director da Biblioteca Americana - e seu amigo pessoal - é encontrado morto de uma forma estranha, a paz de Hugo Marston rapidamente se esgota. De início, tudo parece apontar para causas naturais - mas Hugo tem um pressentimento e, normalmente, os seus instintos não o enganam. E quando a morte de Paul se revela como apenas o primeiro de vários acontecimentos inexplicáveis, Hugo sabe que tem de seguir o seu pressentimento, mesmo que nada pareça fazer sentido e a única ligação aparente pareça ser o passado misterioso de uma velha senhora.
Com um protagonista ligeiramente sherlockiano, mas um cenário muito actual, uma das primeiras coisas a surpreender neste livro é a forma como concilia a muito agradável leveza do tom com um enredo em que há espaço para um pouco de tudo, desde os momentos divertidos aos picos de intensidade e ao adensar de um mistério onde tudo parece ser demasiado estranho - mas tudo flui de uma forma estranhamente natural. E, assim sendo, a primeira e a mais duradoura impressão é a de uma história em que é absurdamente fácil entrar... mas de onde já não é tão fácil sair, pelo menos não antes de desvendados todos os segredos.
E, por falar em segredos... Segredos é o que não falta neste livro, desde a misteriosa morte do bibliotecário à conveniente visita de uma amiga de Hugo, passando pelo mistério de uma actriz que pode ter sido muito mais do que isto e por laivos de um passado que parece insistir em voltar. É, aliás, daqui que surgem os únicos sentimentos ambíguos desta leitura: é que há mesmo muitos mistérios, mas nem tudo tem resposta, daí que fique uma certa curiosidade insatisfeita. Por outro lado, também é certo que as aventuras de Hugo Marston não se ficam por aqui, o que acaba por acrescentar à tal curiosidade insatisfeita uma muito... irresistível... vontade de ler mais histórias sobre este cativante protagonista.
O que me leva à alma da história, naturalmente: Hugo Marston. Intrigante, descontraído, com um certo charme e um raciocínio dedutivo capaz de rivalizar com o de Sherlock Holmes, é fácil sentir um certo fascínio por este intrigante protagonista. Mas o mais interessante é que há tanto de fascinante no que Hugo revela como no que deixa por mostrar. Há uma aura de mistério à sua volta que cria um muito agradável contraste com a atitude aparentemente descontraída sob a qual parecem esconder-se sentimentos bastante mais profundos. Também daqui fica a tal vontade de saber mais - até porque, pese embora a leveza, é quando o lado profundo de Hugo vem à superfície que o seu carisma mais se manifesta.
No fim, fica a sensação de se ter partido numa grande aventura - e de a ter percorrido com a melhor das companhias. Ficam perguntas sem resposta? Naturellement. Mas, entre a leveza, o humor, o fascínio, o mistério e a acção, são tantas as coisas que prendem nesta história que não pode ficar senão este desejo: o de encontrar algumas respostas (e provavelmente mais perguntas) num novo livro desta muito intrigante série.
Título: O Bibliotecário de Paris
Autor: Mark Pryor
Origem: Recebido para crítica
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