A cada noventa anos, doze deuses tomam forma humana e tornam-se celebridades do seu tempo. Os seus espectáculos inspiram multidões, atraem fãs incondicionais e despertam ódios inexplicáveis. A sua vida traz milagres e inspiração - e termina passados apenas dois anos, para que mais tarde o ciclo volte a repetir-se. Mas os tempos mudaram. Os novos deuses não são apenas fonte de inspiração - há quem questione a veracidade da sua história e quem queira livrar-se deles. E, quando um incidente faz com que os poderes de um dos deuses se revelem, as coisas ganham uma nova dimensão. Pois é preciso preservar o ciclo - seja qual for o preço a pagar.
Não há nada para dizer sobre este livro que não seja elogioso, mas é necessariamente preciso começar pelo conceito. A ideia de deuses que encarnam quase como estrelas pop desperta, desde logo, várias questões pertinentes, desde a efemeridade da glória em contraste com a importância que lhe é dada à forma como a fama desperta igualmente paixões e ódios, passando ainda por questões tão amplas como o equilíbrio entre poder e responsabilidade e a existência ou não de limites quando, em teoria, quase tudo é permitido. Tudo isto está presente neste livro e com um potencial que apenas parece ter começado a revelar-se. O resultado é um fascínio quase imediato e uma vontade irresistível de saber mais.
Claro que é preciso também falar do elemento visual que é, afinal, o que dá vida e cor a um mundo tão cheio de fascínio como de possibilidades. A cor, o traço, a imagem surpreendente que é dada às várias personagens e a expressividade que tanto as caracteriza são, no fundo, a alma de uma história em que o diálogo é apenas um dos vários elementos de um todo muito mais vasto. E a intensidade da acção, o impulso de desvendar os mistérios, até mesmo os laivos de emoção que parecem surgir precisamente nos momentos certos emergem tanto dos actos - e, portanto, da imagem - como das palavras.
Mas voltando às personagens e ao mundo em que se movem. Este é apenas o primeiro volume de uma série bastante mais extensa e, por isso, escusado será dizer que é apenas o início de algo que promete ser muito mais vasto. Mas há já tanto para descobrir, nas personagens e no sistema em que parecem enquadrar-se, que, mais do que qualquer curiosidade insatisfeita, fica simplesmente isto: a sensação de uma primeira etapa muitíssimo bem conseguida e a vontade de descobrir o que se segue o mais rapidamente possível. Claro que também a forma como tudo termina contribui para esta impressão, pois aquele ponto de equilíbrio entre o fim de uma fase e a ideia de que muito mais estará para vir desperta precisamente esse agradável misto de curiosidade e satisfação.
Intenso, fascinante, com um mundo tão complexo como a natureza das personagens que o povoam e uma exploração meticulosa do muito potencial contido em tudo isto, a soma das partes é, pois, um início brilhante, que prende desde a primeira página e não deixa de fascinar até ao fim. Brilhante, surpreendente, belíssimo. Mal posso esperar para ler o próximo.
Título: The Wicked + The Divine: O Acto de Fausto
Autores: Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matt Wilson e Clayton Cowles
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário