Tudo começa quando Samuel, um caixeiro-viajante, dá boleia a um desconhecido no Grande Deserto. Depois, o reconhecimento não tarda a manifestar-se e, com ele, a certeza de que algo de mais vasto está em marcha. A esta primeira aparente coincidência seguem-se outras e não tarda a que a sua viagem solitária rumo a Distopia, a grande cidade do planeta, se transforme numa grande peregrinação. Pois há uma profecia prestes a concretizar-se: está iminente a chegada do Alquimista, aquele que acabará com o mundo tal como ele é nesse momento, e é esse mesmo Alquimista que viaja ao lado de Samuel. Há um destino a cumprir no fim da viagem. E cumprir-se-á, inevitavelmente, tal como foi profetizado. Mas talvez não da forma que aparenta ter...
Bastante extenso e com uma forte componente espiritual, não se pode dizer que este seja um livro de leitura rápida. Há longas descrições, longos momentos explicativos e isso faz com que o ritmo da narrativa se torne um pouco pausado. Além disso, ao oscilar entre diferentes personagens (com a necessária caracterização dos mundos em que se movem) a história torna-se mais ampla e o ambiente mais complexo, o que exige mais tempo para assimilar.
O percurso é longo e, por vezes, as mensagens do Alquimista e as suas explicações implicam uma certa dose de crença espiritual, o que significa que, para os mais cépticos, este elemento dominante poderá despertar sentimentos ambíguos. Ainda assim, há um aspecto particularmente interessante nesta faceta do enredo. É fácil reconhecer os paralelismos entre o percurso do Alquimista e a narrativa dos evangelhos, o que, associado às também muito claras diferenças, cria um contraste interessante: por um lado, não é difícil adivinhar de que forma terminará o caminho do Alquimista. Por outro, fica a sensação de que há algo de universal subjacente às diferenças.
E depois há os picos de intensidade que, embora estejam relacionados com uma narrativa familiar (afinal, os paralelismos são evidentes), conseguem, ainda assim, tornar-se memoráveis e destacar-se numa história em que o pensamento é tão ou mais importante que a acção. Pois a mensagem importa, claro, mas, é quando tudo converge para uma fase final tão inesperadamente intensa, que a longa caminhada rumo à mudança acaba por se gravar na memória.
Ficam alguns sentimentos ambíguos quanto a alguns pontos de vista, mas o balanço acaba por ser claramente positivo. E assim, o que fica desta leitura é a impressão de uma história que exige o seu tempo - e uma certa medida de fé - mas da qual é possível retirar várias ideias positivas ao mesmo tempo que se acompanha uma jornada cativante. Valeu a pena, portanto.
Título: O Evangelho do Alquimista
Autor: Tiago Moita
Origem: Recebido para crítica
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