Da amizade, mais viva ou mais esbatida. Da vida, da morte e de tudo o que as separa. Do mundo como um todo e dos mundos dentro de cada um. De tudo - de nada - de todos. De tudo isto e da poesia em si são feitos estes poemas que, num ritmo sem grandes regras para além da naturalidade, traçam, com aparente simplicidade, mas com uma visão muito certeira, um conjunto de retratos da vida. E é essa, afinal, a alma deste livro: a imagem directa e sem elaborações que mostra, em traços simples, as coisas complexas.
Sendo certo que o conteúdo é sempre mais importante que a forma, uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste conjunto de poemas é precisamente a forma. Porquê? Porque não segue regras estritas, sejam de rima ou de métrica, deixando que as palavras formem o seu próprio ritmo e fluam com a naturalidade do pensamento. Palavras que, sem grandes elaborações e com relativa brevidade, conseguem fazer com que, em cada poema, sobressaia o que tem de mais essencial e deixando o resto à imaginação de quem os lê.
Ora, esta aparente simplicidade esconde uma complexidade mais vasta: é que, quando se abordam temas tão amplos como a amizade, o amor, a morte e a poesia, cada leitor tem, naturalmente, uma perspectiva diferente daquilo que está a ler - e, muito provavelmente, diferente da do autor. Daqui, surge um interessante equilíbrio, já que é fácil reconhecer a visão do autor, mas uma visão que não se impõe às muitas possíveis interpretações. É fácil também, por isso, retirar das palavras algo que nos soa próximo - e ver, na diferença, também o muito que há em comum.
É um livro breve, sim, como são breves os poemas que o constituem. Mas a impressão que fica é a de que tudo tem precisamente a medida certa para abrir as portas de uma visão única - e, a partir dela, a de muitas outras possibilidades. Simples, mas belo e de uma vastidão secreta, vale muito a pena ler este conjunto de poemas.
Título: Poemas Perdidos
Autor: José António Pinto
Origem: Recebido para crítica
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