Elsa tem quase oito anos e sabe que é diferente. Tem uma imaginação desenfreada e, talvez por ser um bocadinho excêntrica, não consegue enquadrar-se na escola e a única verdadeira amiga que tem é a avó. Só que a avó, que sempre a maravilhou com histórias da Terra-de-Quase-Acordar, está prestes a deixá-la e, antes de partir, deixa-lhe uma última missão. Primeiro, Elsa tem de entregar uma carta e de levar um pedido de desculpas a um dos moradores do seu prédio. Mas Elsa está longe de adivinhar que essa carta é apenas o início de uma grande descoberta - e da construção de um novo retrato da avó que sempre amou - e que sempre a amou - mas que talvez nunca tenha conhecido verdadeiramente.
Estranha (e deliciosa) mistura de inocência e de estranheza, este é um livro que assenta num delicado equilíbrio entre o real e o imaginário. Elsa vive tanto no mundo real como no mundo que a avó construiu para ela. E se, no início, tudo parece ser apenas uma sucessão de excentricidades (divertidas, é certo, mas apenas excentricidades), à medida que a narrativa evolui e as memórias, relações e histórias pessoais das várias personagens começam a vir à superfície, tudo ganha uma dimensão diferente. A história torna-se mais intensa, mais complexa - e fá-lo sem nunca perder a leveza característica de uma aventura vista pelos olhos de uma criança de sete anos.
Há mais realidade, muito mais, do que de início poderia parecer. Mas há também um mundo imaginário vastíssimo - o tipo de imaginário que apoia, que ensina, que salva. Pois não é disso que vivem as histórias? E também isso faz parte do que marca neste livro: à medida que descobre a realidade da avó, Elsa vai também recordando as muitas fascinantes histórias da Terra-de-Quase-Acordar. E, quando os paralelismos se tornam claros, a imagem global é algo de brilhante. No fim, nenhuma personagem é exactamente como era no início. Elsa cresceu mentalmente, e não foi a única. E acompanhar esse crescimento, essa descoberta, com este tão peculiar grupo de personagens é algo de mágico a acontecer.
E há uma estranha beleza na forma como isto acontece, beleza que se estende desde a forma como a história é contada às muitas facetas da história em si. O crescimento das personagens, os momentos emotivos em contraste com as situações caricatas e divertidas, a forma, até, como as verdades do mundo começam a abrir-se para uma protagonista ainda tão inocente. Tudo isto é cativante e enternecedor e igualmente capaz de arrancar lágrimas e gargalhadas. É o tipo de história - o tipo de personagem - que abre caminho para o coração de quem a descobre. E também isso é magia, de certa forma.
É toda uma lição, esta aventura. Uma lição de perda e de descoberta, de aceitação, de perdão e de amor. E é, acima de tudo, uma aventura: uma aventura pelos caminhos da realidade, numa história toda ela povoada de gente estranha, de emoções fortes e de infinita imaginação. Estranho, sim, mas estranhamente enternecedor, cativa tanto pelas pequenas irritações iniciais como pela subsequente revelação de corações maiores. E tudo - mas mesmo tudo - converge, no fim, para todo um reino de doçura. Descubram a Elsa. Vai valer a pena. Muito.
Título: A Minha Avó Pede Desculpa
Autor: Fredrik Backman
Origem: Recebido para crítica
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