Molly tem dezassete anos e está habituada a paixonetas não correspondidas. Aliás, não tem ela outra coisa. Mas, quando a irmã gémea, Cassie, começa a sair com Mina, Molly começa a perguntar-se se não estará a perder demasiado devido aos seus cuidados excessivos. Além disso, Mina traz consigo um novo grupo de amigos, entre os quais um rapaz deveras atraente. Mas, quando tenta abrir-se um pouco mais às possibilidades, Molly dá de caras com o inesperado: o seu colega de trabalho, Reid, com quem parece não ter nada em comum, mas que a cativa de uma forma estranha. Nada na sua vida parece fácil - desde a relação com a irmã ao eterno constrangimento que sente na presença de rapazes. Mas, pela primeira vez, Molly está disposta a correr o risco de ser rejeitada.
Repleto de emoção e também de humor, um dos aspectos mais cativantes neste livro é a mistura de naturalidade e falta de jeito (principalmente da parte da protagonista) com que tudo parece acontecer. Aos dezassete anos, Molly é uma personagem desconfortável na sua própria pele, mas que está a aprender a abrir-se ao mundo. E a forma como isto acontece está igualmente repleta de momentos de conflito e de peripécias divertidas e inesperadas. O resultado é um percurso sempre cativante, cheio de momentos surpreendentes e do qual emerge a percepção de um crescimento emocional que não se torna mais fácil só pelo facto de ser algo natural.
A escrita é simples, leve e fluída, o que se ajusta na perfeição à linha de pensamento e comportamento das personagens. Afinal, são adolescentes a explorar o mundo - e isso implica episódios constrangedores, momentos de emoção desenfreada e, bem, um estranho equilíbrio de discórdia, ternura, distanciamento e amor. Ninguém é perfeito nesta história. Ninguém faz sempre as escolhas certas e, às vezes, um erro parece o fim do mundo. Mas não é precisamente isso ser-se jovem? A impressão de que tudo é o fim - ou o princípio. No fundo, o que esta história faz é traçar o retrato de um percurso de crescimento - com tudo o que tem de normal e de invulgar, e de inesperado e de dramático e de divertido. E, sim, talvez a vida real seja mais complexa do que isso. Mas, tendo em conta que as personagens estão ainda naquele ponto em que a inocência se transforma em algo mais, a relativa simplicidade das coisas faz ainda todo o sentido.
Ainda um outro aspecto que importa destacar é a diversidade. Só há uma coisa que não tem espaço no mundo destas personagens: o preconceito. E não porque esteja ausente da história, mas porque toda ela é a negação desse preconceito. Há, de facto, personagens a alimentar esses preconceitos - mas há muito mais a combatê-los. E disto não pode senão resultar uma mensagem positiva e universal de igualdade e de respeito por todas as formas de amor.
É uma história simples, sim, mas com todo um mundo de descobertas e de questões relevantes associadas. E isso faz com que, além de uma leitura divertida, cativante e surpreendente, este livro seja também uma leitura pertinente para quem começa a descobrir-se a si próprio. Vale a pena? Decerto que sim. E, no fim, fica ainda o bónus acrescido de ter conhecido um grupo tão estranho quanto cativante - e partilhado, de certa forma, as suas aventuras.
Título: Os Altos e Baixos do Meu Coração
Autora: Becky Albertalli
Origem: Recebido para crítica
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