sábado, 19 de maio de 2018

The Good Doctor of Warsaw (Elisabeth Gifford)


Varsóvia. O mundo está a ficar mais negro – principalmente para os judeus. Apesar de apaixonados e com a família e as suas vidas ali perto, Misha e Sophia precisam de fugir antes que seja tarde demais. Mas o caos está a espalhar-se por toda a parte e eles não tardam a descobrir que não têm alternativa a não ser regressar ao gueto. Dentro das suas paredes, há fome e medo – embora haja ainda uma centelha de esperança na forma de Janusz Korczak, com o seu refúgio para crianças. Mas os nazis têm outros planos e, ainda que ninguém no interior do gueto saiba realmente o que se passa no exterior, a verdade não tarda a tornar-se conhecida. Ninguém está a salvo, nem mesmo as crianças. E a sobrevivência – para os poucos que a conseguirem alcançar – terá um preço.
Um dos aspectos mais impressionantes deste livro é o facto de, apesar de seguir um grupo específico de personagens principais, traça um retrato global bastante preciso da situação da época. Baseado em factos verídicos e personagens reais, não conta apenas a história de Janusz Korczak e das suas crianças, ou de como Misha e Sophia sobreviveram. Conta a história do gueto, a história do medo e do desespero e do sofrimento contidos no interior das suas paredes. E ainda que, ao seguir todos estes elementos, a história se torne mais ampla – e, às vezes, um pouco mais distante, pois há inevitavelmente perguntas que ficam sem resposta – é tal o impacto das circunstâncias retratadas que a história se torna impossível de esquecer.
Outro aspecto bastante fascinante é a forma como a autora consegue pegar num momento tão negro da história e, ainda assim, para lá do medo e da brutalidade, mostrar fragmentos de amor e de decência. Korczak e a sua forma de pensar, a luz do seu refúgio no mais negro dos momentos. E as pessoas que, nas mais terríveis circunstâncias, se atrevem, ainda assim, a correr riscos para fazer o que está certo. O mundo não é a preto e branco, mesmo quando é fácil reconhecer o mal. E isso é bastante óbvio nesta história e nos seus momentos de tribulação e de esperança nos mais sombrios momentos.
Além disso, também a escrita contribui para a sensação de ver o mundo pelo olhar das personagens. Ao contar as verdades mais difíceis ao ritmo das perceções dos protagonistas, a autora transporta para os seus leitores o mesmo impacto de cada revelação. E, nos momentos mais perigosos, ou nos mais desesperados, o choque, a surpresa e o desespero sentidos aumentam ao vê-los tal como são materializados nas mentes e corações das personagens.
Não é uma leitura fácil. Não poderia, com uma tal história por base. Mas é, sim, relevante, perturbadora e, acima de tudo, impressionante no seu retrato de um dos momentos mais negros da história – e dos pequenos laivos de esperança que, mesmo em tais circunstâncias, têm ainda de existir. Uma história para recordar, portanto. Um livro para recordar.

Autora: Elisabeth Gifford
Origem: Recebido para crítica

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