Vivian é uma analista da CIA e está prestes a fazer uma grande descoberta. Conseguiu acesso ao computador de um possível operacional russo e acredita que isso lhe revelará os nomes dos agentes de uma célula adormecida. Mas, quando encontra as respostas que procura, encontra também um choque: um dos agentes é o seu marido. Confrontada com a verdade, Vivian vê-se num dilema: denunciá-lo e destruir a sua família ou fazer com que a informação desapareça e correr o risco de passar o resto da vida na prisão? Por impulso e sob pressão, Vivian toma o que julga ser a decisão certa. Mas as consequências são terríveis - e agora a vida que tanto se esforçou por proteger e aqueles que ama estão inevitavelmente ameaçados.
Provavelmente o aspecto mais surpreendente deste livro é que, em vez de seguir o rumo expectável do mistério, alimentando a dúvida sobre se Matt será ou não culpado, a resposta é dada praticamente à partida. Isto permite que a história siga um rumo diferente, pois, partindo de um facto assumido, surge outro tipo de dúvidas e de possíveis manipulações. A forma como Vivian lida com a situação, associada às memórias do passado, que ganham uma nova perspectiva face à revelação presente, abre espaço a que a única certeza seja, de facto, a posição de Matt. E, assim, a esta surpresa inicial, surgem novas surpresas e possibilidades - e a dúvida, sempre a dúvida, sobre onde estão as verdadeiras lealdades das personagens.
Apesar de ser um livro de espionagem, não há propriamente grandes momentos de acção. Talvez também por Vivian ser uma analista e o seu trabalho ser feito essencialmente à secretária, mas principalmente porque a história vive mais de manipulação do que de ameaça - ainda que esta esteja também presente nos momentos necessários. Também isto é, até certo ponto, inesperado, mas faz também todo o sentido, já que a posição de Vivian pode envolver segurança nacional e informações confidenciais, mas é, acima de tudo, de protecção da sua vida pessoal. Ora, isto cria uma certa ambiguidade, porque, vistas de fora, há certas pistas que são mais evidentes para o leitor do que parecem ser para a protagonista. Ainda assim, o impacto emocional e a tensão palpável das circunstâncias talvez justifiquem esta relativa ingenuidade (para uma analista da CIA).
Ficam alguns pontos em aberto, sendo o próprio fim o maior deles, e também a impressão de alguns assuntos inacabados entre Vivian e Matt. Mas tendo em conta a tal vertente pessoal, faz algum sentido que assim seja, pois a história nunca chega a centrar-se em pleno no contexto mais global das acções de contra-espionagem. E, se fica uma certa curiosidade insatisfeita neste aspecto, fica também a sensação de que o difícil percurso pessoal de Vivian alcançou o ponto de repouso adequado.
Trata-se, pois, de uma perspectiva diferente para a clássica história de espiões russos: uma perspectiva mais privada e pessoal, mas igualmente intensa, cativante e surpreendente. No fim, ficam as emoções fortes do caminho e a sempre agradável sensação que fica depois de se ter mergulhado de cabeça numa leitura empolgante e surpreendente. Gostei.
Título: Tenho de Saber
Autora: Karen Cleveland
Origem: Recebido para crítica
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