Edith nasceu numa família judia em Viena e, rodeada pelo carinho da família, apaixonada e a estudar para se tornar juíza, tinha um futuro brilhante pela frente. Até ao dia em que Hitler invadiu a Áustria e, inevitavelmente, o seu mundo desmoronou. Algures entre a esperança e o desespero, teria de passar pelas provações dos campos de trabalho, de ver partir aqueles que mais amava e até de renunciar à sua identidade para sobreviver aos mais negros dos tempos. Sobreviveu, porém. E esta é a sua história.
Poder-se-á pensar, por vezes, que, sendo este período histórico tema de tantos livros de ficção e de não ficção, o assunto poderá estar, talvez, esgotado. Mas bastam algumas páginas deste livro para perceber que não é assim. Relato real de uma história específica, transporta-nos para o interior de um período aterrador e fá-lo com uma clareza tão perturbadora que é difícil não sentir o impacto das experiências vividas por Edith. E, escrito com uma fluidez que quase evoca um romance, mas com toda a nitidez de algo, sem dúvida, assustadoramente real, faz com que seja difícil ignorar os níveis de crueldade daquele tempo.
Sendo a história de uma sobrevivente, dificilmente se poderia pedir relato mais próximo. Mas há ainda um outro aspecto a marcar na história de Edith - e na forma como esta é contada. É que, no clima de medo constante vivido pela autora, é de onde menos se espera que emergem os maiores actos de bondade e as mais inexplicáveis crueldades. Não só as do regime - ainda que sejam essas, claro, a fonte de todos os males - mas a rejeição de pessoas que deveriam ser as mais chegadas e a protecção inesperada de um alegado inimigo. O lado certo não poderia ser mais fácil de identificar - e, porém, a complexidade das pessoas não se esbateu.
Não é um romance, ainda que se leia como um, e na vida real não há finais definitivos. E, num período tão negro da história, são inevitáveis os desaparecimentos, as figuras que apenas num contacto fugaz deixaram a sua marca, para nunca mais voltarem a ser vistas. Mas a história de Edith, da inocência de uma juventude normal à calma possível depois do medo, é em si mesma o retrato de todo o contexto da época. E esse - com toda a crueldade e brutalidade dos nazis, sim, mas também com a indiferença dos que escolheram olhar para o outro lado - é algo de simplesmente assustador.
Só há uma coisa fácil neste livro: a forma como a fluidez da escrita e a expressividade com que tudo é narrado nos transporta para o interior da vida de Edith. O resto é um retrato duro e real - e, como tal, imprescindível. Vale, pois, muito a pena percorrer estas páginas, conhecer esta história. E ver o mundo tal como foi - e como não pode voltar a ser.
Título: A Mulher do Oficial Nazi
Autoras: Edith Hahn Beer e Susan Dworkin
Origem: Recebido para crítica
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