sexta-feira, 25 de maio de 2018

Antes é Que Era Bom! (Michel Serres)

Provavelmente, já todos nós ouvimos dos mais velhos uma ou outra variante desta expressão: antes é que era bom! Mas será realmente assim? Quando se trabalhava de sol a sol, com poucos ou nenhuns direitos, quando os tormentos da guerra e do autoritarismo se espalhavam pelo mundo, quando comunicar com alguém levava semanas ou meses - se fosse sequer possível... Ainda assim, há quem insista: antes é que era bom. E, neste breve, mas muito certeiro, ensaio, o autor - com os seus oitenta e sete anos - vem mostrar como estão errados esses saudosistas.
Sendo um ensaio que, apesar da relativa brevidade, discorre sobre as mais distintas facetas da sociedade actual e passada, não é de esperar que seja uma análise exaustiva. Não o é, de facto. Mas, ao cingir-se ao essencial, faz com que os contrastes sejam mais vincados, as mudanças mais fáceis de detectar e a evolução bastante mais evidente. É um texto que dá voz ao saudosismo - para depois o desfazer em múltiplas facetas. E, não sendo particularmente aprofundado em nenhum dos seus aspectos, consegue, ainda assim, traçar um retrato global deveras esclarecedor.
Também muito certeiro é o sentido de humor que permeia todo o texto. Além de, claro, tornar o texto muito mais cativante, ao pôr em evidência o que não faz sentido no sempre tão presente saudosismo, realça os benefícios das diferentes formas de evolução, sem nunca perder de vista a necessária assimilação - e, claro, a forma como os pensamentos mudam gradualmente. Há, por isso, toda uma imagem global a surgir do contraste entre a Polegarzinha e o Velho Ranzinza. E uma certeza também: a de que, saudosismos à parte, o mundo continuará a evoluir. Até porque o tempo não pára...
Há ainda um último aspecto a destacar: a edição. Sendo como é um livro relativamente breve, e bastante sintético em termos de exposição de conteúdos, o aspecto visual diferente e apelativo dá ainda mais vida a um texto que já tem vida suficiente. Ao primeiro olhar, desperta curiosidade. E, ao longo da leitura, contribui também para reter na memória o essencial da sua visão.
Trata-se, portanto, de uma leitura rápida e simples, mas muito pertinente e esclarecedora. Além, é claro, de um livro bonito, o que, não sendo provavelmente o mais importante, ajuda também a tornar a leitura memorável. Cativante e muito interessante, uma boa leitura para ver com mais clareza o passado e o futuro.

Autor: Michel Serres
Origem: Recebido para crítica

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