terça-feira, 3 de julho de 2018

À Beira do Colapso (B.A. Paris)

Desde a noite tempestuosa em que passou por um carro parado e decidiu não ajudar a mulher que viu no seu interior que a mente de Cass tem vindo a pregar-lhe partidas. E ainda mais a partir do momento em que descobre que não só essa mulher acabou por ser assassinada, como se trata de uma amizade recente. A culpa começa a assombrá-la e com ela vem o medo de que o assassino saiba que ela passou por lá. E, quando às falhas de memória que a fazem temer ter herdado a demência precoce da mãe, se juntam chamadas anónimas e avistamentos estranhos, Cass começa a ter dúvidas: é ela que está a ficar louca ou o assassino anda realmente atrás de si? A sua vida começa a desmoronar. Mas haverá alguma coisa que possa fazer para o impedir?
Um dos aspectos mais surpreendentes deste livro é que, apesar de ter um crime como catalisador de tudo o resto, não é na investigação e na descoberta do culpado que a narrativa se centra - ainda que, claro, a resposta a este mistério seja um elemento crucial. O enredo centra-se antes no percurso de Cass, em que a culpa inicial evolui para um crescendo de terror, tanto face a causas exteriores como ao que se poderá estar a passar com a sua cabeça. E este terror é palpável. A autora descreve-o com precisão, o que faz com que, embora haja desde muito cedo evidências a apontar para a resolução final, a história nunca se torne monótona nem demasiado previsível. Pois é fácil reconhecer alguns comportamentos, mas não o seria para a protagonista, e a forma como a autora explora este aspecto é algo de particularmente memorável.
Também bastante cativante é a forma como, ao caracterizar as outras personagens pelo olhar da protagonista, a autora constrói um equilíbrio delicado entre o que são pistas evidentes e o que poderão ser apenas impressões causadas pelo medo. Cass está, como o título indica, à beira do colapso e isto condiciona todas as percepções. É, por isso, particularmente notável a forma como a autora torna visível o sentimento de confusão que assola a protagonista, criando momentos de grande intensidade, mesmo quando não é muito difícil adivinhar o que acontece a seguir.
E há a escrita, naturalmente, a forma como parece representar na perfeição o estado de confusão interna que vai na mente da protagonista. As dúvidas, os receios, o torpor e depois a descoberta - tudo isso ganha mais vida pela forma como as coisas são narradas. E, se é verdade que há aspectos bastante fáceis de prever, também o é que o enredo tem uma fluidez tão cativante que o caminho importa tanto ou mais que o resultado. A leitura prende desde as primeiras páginas e não larga mais até ao fim. 
Trata-se, então, de uma leitura intensa e cativante, com um mistério na sua base, mas centrada, acima de tudo, nas complexidades e vulnerabilidades da mente humana. Nem sempre imprevisível, mas sempre intenso e intrigante, um livro cheio de momentos notáveis e com uma história que vale a pena conhecer. 

Autora: B.A. Paris
Origem: Recebido para crítica

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