segunda-feira, 9 de julho de 2018

Chama-me pelo Teu Nome (André Aciman)

Todos os anos no Verão, os pais de Elio recebem um hóspede na sua casa em Itália. As poucas semanas que ele ali passa pretendem ser intelectualmente enriquecedoras e, acima de tudo, uma experiência a recordar. Mas aquele ano será diferente e basta um primeiro olhar a Oliver para Elio ter a certeza disso. Mais velho, mais belo e com uma postura simultaneamente descontraída e distante, Oliver desperta em Elio os primeiros laivos de um desejo sem nome. E à medida que os dias passam e o sentimento se aprofunda, há algo de inevitável a crescer entre os dois - tão inevitável na intensidade do fogo como na despedida que terá de lhe suceder.
História de crescimento, de desejo e de descoberta, uma das primeiras coisas a surpreender neste livro é a mistura de estranheza e naturalidade com que tudo parece decorrer. Estranheza porque o próprio protagonista não sabe, muitas vezes, o que quer e o que deve fazer ou sentir. Naturalidade, porque também isso faz parte do seu processo de crescimento e, por isso, todas as revelações, pequenas e grandes, a ocorrer no seu interior fazem um certo sentido. 
Também bastante surpreendente é como, a esta naturalidade, surge associada uma certa ambiguidade sem regras. As leis do comportamento social e o julgamento dos outros passam para segundo plano face à força do desejo e ao sentimento progressivamente mais profundo que vai crescendo entre os protagonistas. Mas é também mais do que isso. Dividido entre o que quer e o que julga dever querer, Elio tem muitas vezes sentimentos contraditórios face ao que está acontecer consigo. Talvez por isso faça especial sentido a forma como tudo termina, com as respostas necessárias, mas também com muitas possibilidades em aberto. Pois fica uma certa sensação de insatisfação ante o que poderia ser - e nunca chega a ser contado - mas também a impressão de um fim estranhamente adequado: que deixa as personagens no fim de algo, que pode ser também o princípio de algo diferente.
E tudo isto emerge não só do comportamento das personagens, mas também dos próprios pensamentos e sentimentos de Elio. A ambiguidade das suas emoções, a intensidade dos momentos de mudança, o encanto e a sensualidade graduais que vão emergindo das suas relações, tudo isso ganha outro impacto pelo registo único que o autor confere à narrativa. Nem sempre é fácil compreender Elio, mas é muito fácil visualizar os seus dilemas. E isso é também uma espécie de magia estranha.
Feita tanto de revelações como de possibilidades, trata-se, pois, de uma história onde o pensado e o proferido são tão importantes como os actos em si. Um livro de fascinantes ambiguidades, mas que contém, no que conta e no que deixa por dizer, a sempre fascinante intemporalidade do amor. Basta isso para que a leitura valha a pena. E já é muito. 

Autor: André Aciman
Origem: Recebido para crítica

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