terça-feira, 24 de julho de 2018

As Vinhas de La Templanza (María Dueñas)

Após anos de luta e de trabalho árduo, Mauro Larrea construiu a sua fortuna com o seu sangue e suor. Por isso, quando descobre que uma decisão errada acaba de o deixar na ruína, não desmorona, procurando antes uma solução que lhe possa abrir caminho para continuar a lutar. Mesmo que seja uma medida desesperada. Voltando costas a tudo e a todos os que conhece, Mauro contrai ainda uma última dívida e deixa o México à procura de uma forma de fazer fortuna rapidamente. Mas o caminho que o levou a Cuba levá-lo-á ainda mais longe - à convivência com uma mulher igualmente determinada e em circunstâncias igualmente desesperadas.
Provavelmente um dos aspectos mais cativantes deste livro é o facto de, num ambiente que é tudo menos a preto e branco e onde não há uma única personagem capaz de despertar uma grande empatia, a história começar desde muito cedo a exercer um estranho fascínio. Mauro Larrea não é o tipo de personagem que desperta empatia - com as suas posições muito vincadas e implacável determinação - mas as circunstâncias desesperadas despertam desde muito cedo a curiosidade em descobrir de que forma sairá do sarilho em que se deixou meter. E, à medida que o enredo avança, com novas conquistas e novos imbróglios, a história vai-se tornando cada vez mais intrigante, ao ponto de ser difícil, por vezes, interromper a leitura.
Não, Mauro não é propriamente a mais empática das personagens. Na verdade, poucas o são, sendo muitas vezes os defeitos mais enraizados que fazem progredir a história. Mas é curiosa a forma como, apesar do maior distanciamento provocado por certas posturas e comportamentos das personagens, esta ambiguidade moral contribui também para realçar o impacto dos grandes momentos. Pode, por vezes, parecer que há uma certa falta de escrúpulos - até ao momento em que são realmente necessários. Além disso, bem e mal não são propriamente conceitos lineares e as escolhas feitas pelas personagens realçam bem esta realidade.
E nem só das personagens vive a história. Há um contexto, uma mentalidade da época que é muitíssimo bem caracterizada neste livro. É fácil imaginar as personagens a mover-se num mundo em que todos os fitam com olhos de quem julga, imaginar o contexto delicado de um império em desagregação e a ascensão e queda meteórica dos que ousam atrever demasiado. E os mundos de origem de Mauro e Soledad, também eles fascinantes e muito bem caracterizados ao longo do livro.
Não é um daqueles livros em que nos apaixonamos pelas personagens. Mas pela história sim. E, com o seu crescendo gradual de intensidade e as revelações que trazem mistérios que trazem novas revelações, esta é uma história cheia de surpresas - e de momentos memoráveis. Uma história que vale a pena descobrir. 

Autora: María Dueñas
Origem: Recebido para crítica

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