terça-feira, 10 de julho de 2018

Jessica Jones: Alias - Volume 2 (Brian Michael Bendis e Michael Gaydos)

O seu passado de super-heroína deu a Jessica Jones uma reputação especial no que toca a investigar casos que envolvam mutantes e gente com super-poderes. Mas aquele caso é diferente. Numa aldeia do interior que parece ter parado no tempo, pelo menos em termos de mentalidade, uma rapariga desapareceu. E, embora estejam a ser feitos esforços no sentido de a encontrar, as coisas parecem emaranhar-se num nó de ressentimentos pessoais e racismo mal disfarçado. Mas Jessica tem um talento natural para fazer as perguntas em que ninguém pensou e há algo na jovem desaparecida que lhe desperta especial curiosidade. Talvez resolver o caso não seja afinal o mais difícil, mas antes lidar com os envolvidos e com o que poderá vir depois.
À semelhança do que acontece com o primeiro volume, um dos aspectos mais cativantes neste livro é a fusão equilibrada entre o mundo da investigação privada e o dos super-heróis. Há, aliás, uma presença bastante pertinente, ainda que sempre discreta, destes ao longo da história que, sem perder de vista a linha central do enredo, insinua várias ligações interessantes. E, sendo uma simples investigação de pessoa desaparecida num mundo onde há muito fora do "normal", este cruzamento de aspectos abre caminho também a várias questões pertinentes: nomeadamente o preconceito face à diferença e a mentalidade fechada que prevalece, por vezes, nos meios mais pequenos.
Outro aspecto que importa destacar é que, seguindo um caso principal - e um segundo mais breve, mas igualmente intrigante - com princípio e fim, este livro pode ler-se independentemente do anterior. Há, ainda assim, pequenas referências e reencontros, além de uma certa evolução da própria protagonista, que fazem com que valha especialmente a pena seguir a história de Jessica desde o início. Até porque reviravoltas, surpresas e revelações são coisa que nunca falta na vida de Jessica Jones.
Também aqui este equilíbrio entre mundos se reflecte também no aspecto visual, não só pelo ambiente típico de uma história de detectives e pelo vincado contraste com a cor do mundo dos super-heróis (ou, bem, de alguns), mas principalmente pelos contrastes que emergem da própria história. O enredo central, os esboços de Jessica e, depois, a história da identidade secreta do Homem-Aranha têm, cada um, um traçado específico que, além de criar uma distinção entre as diferentes facetas do livro, reforça o equilíbrio entre estas mesmas facetas.
E há Jessica, claro, e importa sempre falar de Jessica, uma personagem de moral aparentemente ambígua, mas que, nos momentos realmente importantes, revela ter a consciência no sítio certo. E, além disso, dotada de um sentido de humor tão bizarro como fascinante e de um potencial de crescimento que nunca deixa de surpreender.
Eis, pois, um segundo volume que corresponde inteiramente às expectativas, elevando-as ainda mais para o que virá a seguir. Intenso, enigmático e surpreendente, tanto nos temas como nos acontecimentos, um livro para devorar de uma assentada. E para recordar, depois.

Autores: Brian Michael Bendis e Michael Gaydos
Origem: Recebido para crítica

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