domingo, 12 de setembro de 2010

O Mandarim (Eça de Queirós)

Enquanto lê um livro, Teodoro descobre uma passagem que afirma que lhe basta tocar uma campainha para que um rico mandarim morra, deixando-lhe toda a sua fortuna como herança. Então, tentado por um estranho visitante, Teodoro acaba por seguir as instruções do livro, apenas para se surpreender quando a fortuna, de facto, lhe bate à porta. Mas com o ouro vem também a culpa e Teodoro embarcará por seguir um caminho cheio de dificuldades para afastar a sua culpa e o fantasma que persiste em habitar as suas noites.
Com um início bastante interessante, onde os elementos de sobrenatural parecem ganhar vida através da escrita cuidada do autor, este pequeno livro começa com uma aura de mistério e de obscuridade deveras cativante. Ainda assim, este elemento acaba por não ser constante no livro e parece-me que o percurso de Teodoro, na sua viagem à China, afasta parte deste toque enigmático para se centrar mais no cenário que o protagonista percorre e, de certa forma, nalguns toques de crítica social, que resultam até nalgum humor, quando Teodoro se deixa levar pelo tom de queixa ao ponto de deixar escapar uma improvável referência ao "tempo em que tínhamos verbos".
O resultado, portanto, é uma pequena história onde, no início e na fase final é o mistério da assombração que desempenha o papel principal, resultando num ambiente obscuro muito bem conseguido, e no restante do livro, apesar de motivado à viagem pela culpa sentida pela morte do mandarim, é a aventura pouco afortunada de Teodoro em busca da família do mandarim a marcar o passo da história. Agradável e muito bem escrito, ainda que tenha sentido a falta de um pouco mais do ambiente soturno da fase inicial do livro.

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