terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Ruiva (Fialho de Almeida)

Carolina, a ruiva que dá título a este livro, é a filha do coveiro. Em segredo, aprendeu os primeiros mistérios da sexualidade através dos cadáveres que escolhia entre os mais jovens e belos. Até ao dia em que foi apresentada a João...
O que mais chama a atenção nas características deste livro é, mais que a estranheza da história, a forma como o autor descreve os cenários e as circunstâncias. Com uma certa atenção ao detalhe, a componente descritiva é um elemento de grande presença, tendo em conta a dimensão total do livro, e o resultado é uma visão bastante clara de um cenário decadente, com laivos de repulsa nalguns momentos. As próprias relações entre personagens parecem ser guiadas essencialmente por forças de interesse ou de desejo estritamente físico, o que é notório em várias circunstâncias, desde a razão que leva Marcelina a aproximar Carolina e João à própria atitude de Carolina quando a relação amorosa - se de amor se pode falar nesta situação - começa a esmorecer.
Trata-se, portanto, de um livro onde o cenário é uma imagem perturbadora de decadência e ruína, mas onde a história se desenvolve em termos tão peculiares que se torna difícil criar qualquer simpatia para com as personagens, sendo que o único momento com verdadeiro potencial emotivo se prende com a explicação do passado de João, ainda que este não justifique a estranha forma de vida que se criará entre ele e Carolina.
Uma leitura interessante, com uma escrita impressionante principalmente no aspecto descritivo, ainda que, ao ligar um ambiente demasiado obscuro com algumas situações confusas e uma certa falta de emotividade, não me tenha conseguido cativar por completo.

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