domingo, 17 de abril de 2011

Aroma de pitangas num país que não existe (António Costa Silva e Nicolau Santos)

Dois autores. Um ambiente comum. Duas vozes diferentes. E, apesar dos elos temáticos que ligam os poemas de ambos os autores, quer nos pontos temáticos comuns, quer na mensagem associada aos diferentes poemas, há algo de muito próprio na voz poética de cada autor, algo que transparece quer a nível estrutural, quer a nível de abordagem aos temas.
A poesia de António Costa Silva tem como aspectos marcantes a brevidade de muitos dos poemas, ideias e imagens sintetizadas em poucos versos e representadas na sua essência mais directa. Há, também, uma certa medida de melancolia, noutros textos um tom quase solene, um ambiente quase introspectivo associado ao mais belo, mas também ao mais sombrio, de um lugar, de uma alma e de um pensamento.
Nos poemas de Nicolau Santos, por sua vez, transparece uma maior dedicação aos jogos de palavras, uma certa provocação, um tom no geral mais votado para o exterior que propriamente para o sujeito poético. A voz que expressa o poema diz menos sobre si própria e mais sobre o que a rodeia, sobre as percepções dos conflitos, do mundo como é e como devia ser.
É nestas divergências estilísticas, conjugadas com temas que, muitas vezes, se aproximam, que reside o mais interessante deste livro, já que essa ligação de oposições e semelhanças faz com que o trabalho dos dois autores se complemente, proporcionando uma leitura mais rica e mais completa, bem como uma visão mais abrangente de um país e de um modo de vida, tanto nos aspectos mais globais como nos mais pessoais.
Com muito de cativante e com visões nítidas e marcantes nas experiências e emoções que transparecem de cada poema, este é um livro que, até no mais breve dos seus poemas, apresenta algo de belo a descobrir. E é também isso que torna esta leitura tão interessante...

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