terça-feira, 12 de abril de 2011

Pequena Abelha (Chris Cleave)

Dois anos antes, numa praia nigeriana, algo de terrível tinha acontecido. Algo que ligaria para sempre a vida dessa jovem com o estranho nome de Abelhinha e as de Sarah e Andrew, o casal com quem tal momento fora partilhado. Passado esse tempo, as vidas de Sarah e Abelhinha voltam a cruzar-se. E, com esse reencontro feito de esperança e de tragédia, voltam também as memórias dolorosas. E a culpa. E aquela partícula de morte que sempre permanece com os vivos.
Todo este livro é uma poderosa reflexão sobre a morte. É essa a impressão que fica desde muito cedo, e essa impressão permanece bem depois do voltar da última página, porque, ainda que não sejam acontecimentos mortais os que mais marcam toda esta narrativa, há, em cada um deles, algo de tragédia e de nostalgia que evoca a perda na sua máxima profundidade.
Contada alternadamente pelas vozes de Sarah e de Abelhinha, é no contraste entre as histórias, as vidas e até as personalidades destas duas mulheres que se revela a grande força deste livro. Abelinha, salva de uma morte aterradora, capaz de uma viagem também ela cheia de dificuldades, depois fechada num centro de detenção... tudo em busca de um regresso, talvez, a um instante de passado que representa a única fuga possível. Sarah, por seu lado, mulher de sucesso, mas desiludida com o que a sua vida se tornou, com a morte do marido para aceitar e um filho que se veste de Batman para combater os maus e que não compreende ainda as verdadeiras agruras da vida real. Ambas, representam dois mundos em colisão. Juntas, mudarão a vida uma da outra.
Há uma profunda emotividade na forma como o autor apresenta a história destas mulheres. Em cada momento, seja ele uma reflexão ou um momento de acção, o autor consegue evocar sentimentos tão diferentes como a tristeza, a nostalgia, a raiva, o medo, o ódio... E não apenas nas emoções que atribui a cada personagem, mas nos sentimentos que os actos destes (e, principalmente, as suas fraquezas) evocam no leitor. Acaba, aliás, por ser este domínio de emoções que torna o final deste livro tão marcante, já que, ao longo de toda a narrativa, vai-se construindo um desejo de futuro para duas mulheres que passaram já por demasiado, mas, ainda assim, nada há de cor-de-rosa no final da história. Há apenas um cerrar das esperanças ténues que foram sendo desfiadas ao longo do livro e um impacto que fica, uma grande dúvida deixada à imaginação do leitor.
Poderosa visão de como é efémera a vida, mas também retrato doloroso das realidades mais pessoais e das burocracias e barreiras com que, por vezes, o próprio sistema bloqueia questões de vida ou morte, este é um livro que, de forma envolvente, intensa e emotiva, transporta nas suas páginas uma grande história... e também uma forte mensagem. Belo. Profundo. E impressionante.

1 comentário:

  1. já o tinha debaixo de olho e com a tua opinião vou querer lê-lo de certeza!
    http://otempoentreosmeuslivros.blogspot.com
    Boas leituras!

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