domingo, 10 de abril de 2011

John Lennon Nunca Morreu e outros contos fantásticos (Catarina Coelho)

Magia e imaginação. Passado e presente. Sonho e realidade. Sentimentos conhecidos e circunstâncias improváveis cruzam-se nos sete contos que constituem este livro para criar histórias envolventes, situações emotivas e mensagens importantes, num entrelaçar de elementos imaginários e pequenos detalhes de certa familiaridade.
O primeiro conto é o que dá título ao livro. John Lennon Nunca Morreu apresenta a história de um fã dos Beatles, que, ante a possibilidade de um recuo temporal, decide fazer alguma coisa para salvar o seu ídolo. Um conto envolvente, ainda que de particular interesse para os fãs da banda (o que não é propriamente o meu caso), e uma leitura que marca essencialmente pela compulsão (quase obsessão) do protagonista para com a figura do ídolo, bem como pelo tom narrativo que reflecte nitidamente a afinidade da própria autora pela música dos Beatles.
Segue-se A Troca, história envolvente sobre um negócio, a destruição de um lugar sagrado e a consequente cólera de poderes superiores. Aqui, o aspecto mais cativante reside no contraste entre inocência (na necessidade para lá de argumentação de preservar o elemento em perigo), dúvida (acerca da existência dos poderes sobrenaturais) e inevitabilidade (de uma consequência para as decisões tomadas).
Pequenos Demónios é a história de um regresso a casa, com todas as memórias dolorosas a ele associadas. Um conto de intensidade crescente, que se inicia num tom essencialmente nostálgico, mas que ganha força à medida que evolui para uma progressiva perturbação que culmina num final de grande impacto.
O Sacrifício, por sua vez, apresenta uma história de amor em cenário de crenças divergentes, sendo a intervenção divina o factor de mudança, mas também um auxílio com um preço a pagar. Envolvente e com bastante de emotivo, uma leitura agradável.
Retomando a temática das viagens no tempo, E Nada Mais Importa aborda o recuo ao passado como base para um percurso em que até o mais pequeno acto de generosidade pode fazer toda a diferença. Envolvente e emotivo, é, ainda assim, na forte mensagem que reside o aspecto mais marcante deste conto.
Segue-se Espelhos, história de um baile importante, marcado por uma surpresa invulgar. Um conto sobre as sombras que, na verdade, se escondem na natureza de cada um e uma interessante reflexão sobre a aceitação da hipocrisia em contexto social.
Por último, Espírito da Natureza fala de uma criança supostamente concebida em pecado e de um sacrifício necessário para acalmar a fúria das divindades. Interessante principalmente enquanto reflexo da obstinação dos homens, mesmo perante regras claramente contestadas, mas também surpreendente na conclusão dos acontecimentos.
Uma leitura breve, mas feita de histórias cativantes, onde o que transparece é, acima de tudo, uma mensagem genuína, marcante tanto nos cenários mais sombrios como na quase inocência das situações mais positivas. E é por isso que fica na memória.

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