Apesar das dificuldades levantadas pela família, Marta conseguiu finalmente conquistar a sua vitória e ir estudar para Hamburgo. Mas esperam-na outro tipo de problemas que cedo começam a manifestar-se com a visão inesperada de bandeiras nazis num país onde estas são proibidas. Inicialmente, Marta julga que pode estar a enlouquecer, mas um rápido olhar à história mostra-lhe que as suas visões são verdadeiras viagens ao passado. Mas porquê? O que as provoca? E, de tantos períodos históricos a visitar, tinha mesmo de lhe sair aquele? Talvez haja um motivo. Talvez Marta tenha uma missão a cumprir. Mas, para isso, precisa primeiro de compreender como funcionam as suas viagens ao passado.
Com as suas menos de cem páginas e uma premissa que, à partida, exigirá um certo contexto, tanto no que toca às viagens no tempo como no que diz respeito ao período visitado, talvez fosse de esperar que uma história tão breve fosse inevitavelmente apressada. Bem, não é. Tudo parece ter a medida adequada, cingindo-se, é certo, aos elementos essenciais - até porque toda a história é vista da perspectiva de Marta - mas sem deixar de fora nada de crucial. Além disso, tendo em conta o período histórico visitado pela protagonista, faz especial sentido que as suas experiências desse período não sejam muito aprofundadas, pois, como os últimos capítulos bem demonstram, essa exploração prolongada pode ter consequências terríveis.
Quanto a viagens no tempo, há outro elemento que se destaca. Ao explorar este tema, o que acontece frequentemente às personagens é que vão súbita e inexplicavelmente parar ao passado, onde vivem uma história sequencial (ou tão sequencial quanto possível). Bem, as viagens de Marta são diferentes. Surgem como visões momentâneas, ao ponto de, numa fase inicial, a sua realidade ser questionada, e mantêm esta faceta temporária mesmo nos desenvolvimentos mais atribulados. Além disso, parece haver um princípio definido - ainda que não totalmente revelado - associado a estas viagens. Marta sugere explicações possíveis e há outras a vir ao pensamento ao longo da leitura. Uma coisa é certa: existem razões. E a forma como Marta as vai gradualmente dominando - mais uma vez, na medida do possível - é também muito interessante.
Importa ainda voltar à brevidade para salientar o equilíbrio que emerge da própria escrita. Directa quanto baste, mas capaz de transmitir na perfeição os pensamentos e angústias da protagonista, consegue traçar cenários nítidos sem nunca perder a leveza e a concisão que tornam a leitura tão empolgante.
Breve, mas com um equilíbrio quase perfeito entre a intensidade dos acontecimentos, a natural confusão na mente da protagonista e um fenómeno que, aparentemente inexplicável, não deixa por isso de ser bem real, trata-se, pois, de uma leitura intensa e cativante, além de cheia de surpresas. Vale muito a pena conhecer a Marta... e fica a vontade de a reencontrar.
Título: As Nuvens de Hamburgo
Autor: Pedro Cipriano
Origem: Aquisição pessoal
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