Há quem tenha mais medo de falar em público do que da própria morte, mas, mesmo pondo de parte os casos mais extremos, todos - ou quase - todos sentimos um certo nervoso miudinho ante a perspectiva de falar para uma plateia. A verdade, no entanto, é que, a não ser que vivamos em regime de isolamento (tempos de pandemia, à parte), todos falamos, em certa medida, em público. Com familiares, amigos, colegas de trabalho... e isso não nos assusta, pois não? Bem, eis um ponto de partida. E, a partir daí, importam sobretudo a prática e ter bem presentes as características que definem um orador... nunca esquecendo, contudo, que não existem fórmulas universais.
Partamos deste ponto: não existem fórmulas universais... até porque, se existissem, todos seríamos magníficos oradores. Este simples facto é algo que não só está presente em todo o livro como fundamenta a sua característica essencial, ou antes, aquilo que não é. Não é um livro de dicas fáceis e muito menos de soluções milagrosas, chegando mesmo a surpreender pela profundidade com que aborda não só os recursos, mas a própria história da arte da retórica. E, assim, não vamos chegar ao fim deste livro com todo o conhecimento necessário para convencermos o mundo inteiro da nossa mensagem. Não, mas é um ponto de partida. O resto virá da prática, do aprofundar de conhecimentos... e, bem, das nossas características individuais.
Não é - nem pretende ser - um livro milagroso, mas é muitíssimo interessante, não só pela utilidade das perspectivas que apresenta, mas também pela forma como as complementa com um bem desenvolvido, ainda que conciso quanto baste, contexto histórico e filosófico. Às origens da retórica e a sua reputação nem sempre boa, junta-se o percurso individual de vários oradores, natos ou construídos e um conjunto de perspectivas e classificações sobre esta tão importante arte. E quanto ao medo... Pode não conseguir afastá-lo, mas dá-lhe outra perspectiva. Até porque o tal nervoso miudinho pode funcionar como estímulo a uma melhor preparação.
Sendo um livro dedicado à forma de exprimir de uma mensagem, sobressai ainda a forma de expressão da autora. Ainda que um texto escrito não seja uma palestra, é curiosa a sensação que, ao longo da leitura, vai surgindo de que a autora está praticamente a falar connosco. Em parte devido à fluidez, em parte devido ao delicioso sentido de humor, é quase como se pudéssemos ouvi-la, o que torna também a mensagem mais clara.
Útil, interessante e muito agradável, trata-se, pois, de um belo guia para enfrentarmos o medo do público e, sobretudo, aprendermos a falar melhor. Não precisa de ser para uma grande audiência, pois, sem grandes revoluções ou milagres, as ideias extraídas deste livro podem também ser-nos muito úteis na comunicação de todos os dias. E é exactamente isso que se espera, certo?
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