Plantada algures entre a nostalgia e a paisagem, uma mente divaga. Percorre rasgos de infância, amores que se desvaneceram, lugares que ficaram para trás, mas permaneceram guardados na memória com os seus encantos especiais e um certo mapa de afeições dispersas que convergem na memória das palavras. Fá-lo em poesia, mas com a simplicidade do que brota da alma. E, talvez por isso, leva-nos consigo na viagem.
Nunca é muito fácil descrever um livro de poesia, principalmente quando são como este, em que a impressão que fica é tanto emotiva e de emoções como do impacto das palavras propriamente ditas. Há, ainda assim, alguns aspectos que se destacam: primeiro, a sensação de proximidade que resulta de uma poesia muito pessoal, que parece abrir o coração e as memórias do sujeito poético; depois, o contraste entre a brevidade e relativa simplicidade estruturais e o impacto das palavras - e das imagens - que subitamente irrompem dos versos; e, finalmente, a coesão com que faz que o conjunto dos poemas não seja só um conjunto, mas uma viagem maior.
Partindo desta coesão, sobressai ainda um outro aspecto. Como é natural, haverá, ao longo da leitura, poemas que deixam uma marca mais intensa, enquanto outros, talvez pelo cariz mais descritivo, assumem mais o tom de uma contemplação distante. Ainda assim, todos têm o seu lugar e o seu sentido no todo, o que gera a curiosa impressão de um livro de poesia que se lê quase como um romance. Estamos lá ao longo de todo o caminho: para o evocar de memórias, para o contemplar de paisagens, para os sentimentos que entendemos e para os que talvez não possamos entender.
É verdade que a viagem é breve, mas não deixa de ser muito interessante. Feita de impressões de afecto e de nostalgia, de paisagens, palavras e até de um certo silêncio, gera um todo composto por partes diversas, umas mais notáveis que outras, mas todas cativantes. E é esta, em suma, a imagem que fica no fim: a de uma poesia simples, mas capaz de contar histórias nos intervalos das palavras.
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