terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A Raiz do Ódio (Anne Holt)

O corpo de um rapaz retirado da água. A episcopisa de Bergen assassinada em plena rua na noite de Natal. E uma criança invulgar que caminha pela rua gelada e que, depois de quase ser atropelada por um eléctrico murmura para a mãe "A senhora estava morta...". Crimes e situações invulgares que, aparentemente não têm outra relação para lá da proximidade. Mas na verdade, não é bem assim. E quando a criminologista Johanne Vik e o detective Adam Stubø começam a seguir as pistas, o elo que liga os diferentes crimes torna-se claro. E bastante perturbador...
Não sendo propriamente um policial de leitura compulsiva, é interessante ver como elementos que inicialmente parecem não ter qualquer ligação acabam por encaixar num cenário global mais vasto. Ao apresentar diferentes acontecimentos (acompanhados de uma boa medida de contextualização), a autora confere à narrativa um ritmo que é inicialmente bastante pausado e em que as diferentes personagens, com as suas respectivas histórias, seguem rumos muito próprios e, aparentemente, sem qualquer ligação com os restantes.
Mas tudo isso muda a partir do momento em que o ponto comum se torna visível e, neste livro em particular, o ponto comum tem bastante impacto. Não é algo que seja revelado de forma brusca, mas algo que se insinua aos poucos ao longo da investigação, permitindo, por vezes, que o leitor chegue a algumas conclusões antes dos investigadores, mas revelando a percepção global dos acontecimentos para uma fase muito avançada. Isto é particularmente relevante se se tiver em conta a força do tema principal deste livro - os crimes de ódio (em particular contra os homossexuais) - e as muitas questões importantes que levanta, tanto a nível do preconceito que existiu e que ainda persiste, como da própria organização e funcionamento dos grupos de ódio. Junte-se a isto a forma como a vida pessoal dos investigadores se conjuga com as suas vidas profissionais (sendo particularmente relevante o papel de Kristiane) e o resultado é um enredo complexo e cativante.
Este é, portanto, um livro que começa com um ritmo relativamente lento, mas que vai ganhando intensidade à medida que a sua complexidade total se vai revelando. Uma boa história, com personagens interessantes, um tema de grande relevância e um final que surpreende. Gostei.

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