Histórias dos sentidos, com sentidos e sentimentos presentes, são o que constitui este pequeno livro. Histórias de gestos quotidianos e de vidas que se percorrem em poucas páginas, mas que tanto cativam pelas pequenas surpresas como pela envolvência de uma escrita sucinta, mas em que nada de essencial é deixado por dizer. São contos de vidas que podiam ser reais e basta o breve Prefácio de Miguel Esteves Cardoso para, numa breve visão pessoal da obra, despertar curiosidade para o rumo destas histórias.
E o primeiro conto é A Garça-Real, história da vida e dos amores de um duriense. Centrado no ambiente e nos gestos do quotidiano, é breve o relato dos acontecimentos. Marca, ainda assim, a fluidez com que a escrita reflecte a naturalidade da passagem pela vida, culminando num final enternecedor.
Segue-se Nunca há paz!, história de um triângulo amoroso e da morte de um dos seus elementos. Envolvente, ainda que alguns dos eventos sejam narrados de forma demasiado sucinta, também aqui marca a presença de uma visão da vida enquanto efémera e naturalmente fluída. Seria interessante ver um maior desenvolvimento de alguns acontecimentos, mas é uma boa história, ainda assim.
O Banquete é a história de um cavalheiro com aversão a compromissos e com um invulgar fascínio pela arte de bem comer. Com uma caracterização muito completa, ainda que algo distante, do protagonista e das suas predilecções, este é um conto de ritmo pausado e bastante descritivo, principalmente no que toca aos pormenores culinários. É, apesar disso, uma história sempre envolvente e com um final particularmente marcante.
Lavanda e Malva trata de regressos e das memórias e estes associadas, num sentimento que prevalece através do tempo. Gestos e recordações são descritos em tom de divagação, alternando entre os dois protagonistas, no que se torna uma história de leitura envolvente e com um final muito bom.
Seguem-se os contos mais marcantes do livro. O Silvo, história do crescimento de um órfão, desenvolve-se de forma simples, mas envolvente e evocando uma certa ternura. Cativante e com um final particularmente marcante, representa na perfeição o ciclo da vida, com os pequenos sucessos e as grandes perdas que o definem. Por sua vez, Os Panadinhos tem como base um homem, uma mulher e uma mentira inocente, numa história breve, mas de leitura agradável e com um final surpreendente.
Terminados os contos, surge Sinto muito!, o posfácio em que Manuel Serrão complementa, falando do autor, o que da obra foi dito no prefácio.
O que fica da leitura destes Contos Consentidos é, portanto, a ideia global de um conjunto de histórias relativamente simples, mas que espelham com precisão os lugares e as figuras que os protagonizam, em episódios e vidas que poderiam ser as de qualquer personalidade real. É também isto que os torna interessantes e envolventes. É isto, em suma, que faz desta obra uma boa leitura.
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