Enquanto a corte chora (e o rei nem tanto) a morte da sua rainha, Charlotte de Fontenac desaparece, depois de ter sido vista a entrar no gabinete do rei em estado de grande perturbação. Ante as iminentes mudanças causadas pela morte da rainha e os muitos interesses que esta parece pôr em causa, poucos prestam atenção ao desaparecimento da jovem, mas há, entre os que a conhecem, quem não esteja disposto a desistir sem obter respostas. O que encontram, contudo, é bastante mais complexo do que esperavam e o reaparecimento de Charlotte, em circunstâncias inesperadas e numa condição bastante diferente da que lhe conheciam, vem adensar ainda mais o mistério. Pois a corte é um lugar de intrigas e a queda em desgraça pode dever-se a acontecimentos aparentemente muito simples...
Mistério e intriga são os elementos fundamentais deste livro que, desde logo, surpreende por ter um ritmo ainda mais intenso que o do primeiro volume. As personagens são agora já conhecidas e o ponto de partida deixado pelo final do primeiro volume permite entrar, desde logo, numa linha em que a acção predomina e desvendar o enigma é imperioso. Além disso, a situação delicada da protagonista apela à empatia do leitor, criando uma proximidade com a personagem, e com o seu papel no centro do que é uma vasta teia de intrigadas, uma incessante curiosidade em saber como se resolverão as coisas.
Tudo isto faz com que esta seja uma leitura compulsiva. Mas há ainda mais alguns aspectos que sobressaem. Para lá de Charlotte e da sua história de amor impossível com o modesto polícia Alban Delalande, há toda uma série de simpatias e ódios de estimação a surgir entre as várias personagens que habitam esta história. Cria-se, assim, toda uma série de relações, que vão de elementos simples e pessoais a ligações que, se quebradas, podem abalar o funcionamento do estado. Isto torna-se ainda mais interessante por nenhuma personagem ser apenas exactamente o que parece a princípio - como demonstram, de resto, as acções de Alban e Adhémar, os dois homens da vida de Charlotte de Fontenac.
Importa ainda mencionar a forma como, sem perder de vista as personagens que são, afinal de contas, o centro da narrativa, a autora consegue apresentar uma visão bastante completa do funcionamento da corte de Luís XIV, sendo particularmente interessante, neste livro, a caracterização bastante detalhada da cerimónia do deitar.
De referir, por último, o crescimento das personagens e, em particular, de Charlotte, cujas circunstâncias delicadas a moldam numa personagem bastante menos ingénua - e bastante mais fascinante - da apresentada no primeiro volume. É, aliás, este crescimento, tanto da parte da protagonista como dos que a rodeiam, que prepara terreno para um final forte, surpreendente e um pouco comovente.
De leitura viciante, com um equilíbrio perfeito entre acção, mistério e emoção e uma caracterização bastante precisa do cenário e dos costumes da época, O Quarto do Rei completa de forma envolvente e surpreendente a cativante história iniciada em Mataram a Rainha!. Muito, muito bom.
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