Do amor e da natureza, do afecto que perdura ante o tempo que passa e da sua transposição para as flores e o mundo. É esta a matéria de que tratam os poemas que constituem este livro. Poemas construídos num registo pessoal, em que os afectos dominam, mas em que cada elemento da natureza assume um simbolismo próprio. E, no conjunto, uma visão global de um lado menos sombrio da vida, mais definido pelas emoções e pela beleza.
Um dos aspectos cativantes deste livro é a forma como os poemas são construídos, com uma estrutura livre quanto baste, mas com alguma tendência para a rima, e um tom que é quase o de alguém que conta uma história ou o fragmento de uma recordação. Cria-se, assim, uma espécie de proximidade relativamente ao sujeito poético, ao qual se associa uma relativa simplicidade, mas da qual sobressaem alguns versos inesperadamente marcantes.
Para essa impressão de simplicidade contribui também a abundância de elementos naturais, com as emoções que lhe estão associadas. Mais que uma escrita simples, já que há vários poemas em que os versos seguem todos os caminhos menos os expectáveis, trata-se do reflexo de uma vida associada às coisas simples, da qual transparece quase que um certo optimismo. Também isso se torna cativante.
Considerando a totalidade do livro, a repetição frequente de alguns elementos faz com que, se lido de seguida, se fique com a sensação de um conjunto de ideias que periodicamente ressurgem. Ainda assim, estes pontos comuns têm também um lado muito positivo. É que reforçam a coesão entre todos os poemas, conferindo ao livro uma impressão de unidade, de um ambiente global que transcende cada um dos poemas enquanto unidade.
Relativamente breve, leve quanto baste e com uma poesia pessoal e optimista, o que fica, pois, deste Com Ar de Primavera é a ideia de uma leitura cativante, com alguns poemas particularmente surpreendentes num conjunto que é, no seu todo, coeso e de leitura agradável. Gostei.
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