terça-feira, 21 de outubro de 2014

O Homem que Era Salazar

Depois de uma discussão com o encenador, o actor que representa a personagem de Salazar deixa o teatro com a roupa de cena e vai jantar a um restaurante bem conhecido. Mas está longe de imaginar a grande mudança que começa com essa simples decisão. Ao ser confundido com a sua personagem, o actor decide responder à altura do seu papel. E, pouco depois, não se fala senão do que Salazar teria para dizer sobre a actualidade. Quase por brincadeira, ou para melhor divulgar a peça, o actor vê-se envolvido em entrevistas, reportagens, debates. E, à medida que se torna mais Salazar e menos ele próprio, vê-se mais perto de uma verdadeira intervenção nos rumos do país. Mas para os mudar para melhor? Ou não?
Relativamente breve e com um enredo bastante simples, este é um livro que, através de uma história contada com leveza e humor, parece pretender olhar para os assuntos sérios da actualidade. O contexto de crise, a forma como as pessoas vêem os políticos e o saudosismo que parece existir relativamente a Salazar estão na base desta narrativa que, peculiar em todos os aspectos e, apesar disso, bastante simples, consegue, ainda assim, apelar a uma certa reflexão.
Na verdade, e apesar dessa dita simplicidade, a impressão que fica é precisamente a de que a história é, acima de tudo, um meio para transmitir a mensagem.O percurso do Salazar que protagoniza este livro define-se, principalmente, como um conjunto de episódios invulgares, que partem quase de um acaso e culminam numa acção concertada em prol da mudança. E, apesar de haver sempre algo a acontecer, o facto é que nem em termos de personagens nem de acontecimentos há um impacto pessoal ou um desenvolvimento exaustivo de razões e comportamentos. 
Salazar e os que o rodeiam surgem mais como representações das ideias do que propriamente como personagens. Por isso, o que cativa não é tanto a história, que, considerada enquanto tal, tinha potencial para um muito maior desenvolvimento, mas as ideias que lhe estão associadas. E essas tornam-se, de facto, mais fáceis de assimilar pela forma como são apresentadas.
Tudo somado, a impressão que fica é a de uma leitura agradável e cativante, que, com leveza e humor, aborda de forma certeira uns quantos assuntos sérios. Um livro interessante, em suma.

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