quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Deixados para Trás (Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins)

Tudo acontece em poucos instantes. As pessoas que, poucos momentos antes, estavam lá, desapareceram por completo, deixando para trás os objectos e até as roupas que tinham vestido, num fenómeno sem qualquer explicação. Ou com várias. Para Rayford Steele, aos comandos de um avião no momento em que tudo acontece, a justificação é aterradoramente clara. A devoção quase fanática da mulher à sua igreja deu-lhe as respostas que, antes não quis ouvir, mas que agora fazem todo o sentido. Os justos, os verdadeiros cristãos, foram levados e todos os outros foram deixados para trás para suportar as tribulações profetizadas no livro do Apocalipse. Rayford acredita, tem a certeza. Mas sabe que nem todos serão fáceis de convencer. Principalmente, quando o mundo em que se move está no limiar de uma nova ordem mundial...
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é a forma como as profecias do Apocalipse são transpostas para um cenário que, apesar do caos expectável, consegue surgir como essencialmente organizado. As reacções ao Arrebatamento têm a intensidade esperada de uma situação do género, mas, apesar disso, o mundo continua a mover-se ao ritmo dos interesses dominantes. E isto é interessante principalmente pela forma como os dois elementos se cruzam. Por um lado, as explicações para os desaparecimentos definem os passos do caminho de Rayford em direcção à sua fé. Por outro, os movimentos do enigmático e cativante Nicolae Carpathia põem em cena uma teia de movimentações políticas (e não só) que, aparentemente pouco relacionadas com o Arrebatamento, acabam por seguir num sentido muito próximo.
Ora, o resultado do cruzamento destas duas linhas é um enredo em que, em ambos os cenários, há sempre algo de relevante a acontecer, seja na forma como Rayford começa a assimilar os acontecimentos, seja nas movimentações em torno do suposto sonho de Carpathia. O resultado é uma narrativa sempre envolvente, com várias surpresas ao longo de percurso e com um conjunto de personagens que, apesar de ser bastante evidente o papel que têm de desempenhar, não deixam de surpreender pelo carisma - especialmente no caso de Nicolae.
Quanto à questão da fé, fica, por vezes, a impressão de ser um elemento demasiado consensual, tendo em conta a perspectiva global e as possíveis explicações. Ainda assim, e apesar de alguma repetição de ideias, a forma como o sistema é desenvolvido compensa o ocasional exagero, contribuindo também para manter a envolvência da leitura.
Envolvente e intrigante, com uma interessante abordagem à questão do Arrebatamento e, através dela, a outras questões relevantes sobre a fé e o funcionamento do mundo, este é, pois, um início promissor para uma história repleta de possibilidades interessantes. Fica, por isso, a curiosidade em saber o que se seguirá.

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