Breves, por vezes improváveis, quase sempre surpreendentes e, seguramente, muito bem escritos. Assim são os contos que constituem este livro, no qual uma forte impressão pessoal serve de mote a uma série de narrativas peculiares. É, isso aliás, que, desde logo, se deduz da introdução, Observar e Escrever, na qual o autor desvenda, de forma muito breve, a sua forma de escrever, bem como o que espera dos seus contos. Revelando uma postura especialmente pessoal relativamente à sua escrita, esta introdução desperta, desde logo, curiosidade para o que se seguirá.
O primeiro conto é Massinello Pietro. Referido como o favorito do autor, conta a história de um homem peculiar e de como a sua estranheza o destinou à prisão. Belo e comovente, este conto marca pelo contraste de um protagonista que quer espalhar alegria pelo mundo, mas cujo percurso reflecte principalmente a tristeza em seu redor.
Em A Visita, uma mãe visita o homem que recebeu o coração do filho. Breve e aparentemente simples, este conto contém um mundo de emoção na forma precisa e comovente como reflecte a dor da protagonista. Impressionante.
Partidas de Golfe ao Crepúsculo narra um jogo em companhia peculiar. Intrigante e de leitura agradável, perde um pouco pela ambiguidade das razões das personagens. Interessante, ainda assim.
Segue-se O Homicídio, história de uma aposta de consequências mortais. Intrigante, mas demasiado apressado, deixa a impressão de que poderia ser uma história bastante maior. Ainda assim, com a escrita cativante e o ambiente de tensão quase palpável, não deixa de ser uma boa leitura.
Quando o Ramo se Parte fala do choro de uma criança por nascer. Muito breve, acaba por se revelar demasiado confuso. Apesar disso, a ideia, ainda que explorada de forma muito sucinta, não deixa de ser interessante.
O conto seguinte é o que dá título ao livro, Teremos Sempre Paris. História de paixão entre desconhecidos, cativa pela fusão de elegância e mistério com que todo o encontro é descrito. Envolvente e surpreendente, é também um conto breve, mas que fica na memória.
Em A Mamã Perkins Veio para Ficar, as personagens da rádio ganham vida para atormentar um homem que apenas queria um pouco de paz. Intenso e surpreendente, fascinante em tudo o que tem de improvável, este é, sem dúvida alguma, um dos melhores contos do livro.
Pares, mais um conto breve, apresenta um casal em que ambos os membros mantêm relações desconhecidas. Directo e sintético, mas interessante, este conto surpreende, acima de tudo, pela forma como tudo na história dá a entender um determinado facto... para, no fim, tudo ter um significado diferente.
Pater Caninus apresenta um cão com uma missão especial. Cativante e enternecedor, além de muito certeiro na análise que faz de alguns preconceitos motivados pelo orgulho, trata-se de um conto que, apesar de aparentemente simples, fica na memória.
Segue-se Chegadas e Partidas, a primeira saída de um casal de regresso à vida. Também peculiar, mas também cativante, este conto representa, nos seus protagonistas, o entusiasmo do que é novo e a calma do regresso à normalidade. Mais uma história interessante, portanto.
Últimas Gargalhadas fala do estranho resgate de um amigo, numa história com tanto de intrigante como de surreal. Cativante e de leitura agradável, mas com um ambiente todo ele estranhíssimo, deixa, no fim, mais perguntas que respostas.
O Verão da Pietà fala da força do amor de um pai por um filho, num conto pausado, quase introspectivo, mas comovente na força da sua mensagem.
O conto que se segue é Regressar a Casa, história de uma viagem a Marte e da construção de uma casa longe de casa. Um tanto improvável, mas estranhamente cativante, surpreende, em primeiro lugar, pelo cenário algo surreal, mas principalmente pela reflexão sobre o isolamento e as formas de o combater.
Anti-Conversa de Almofada apresenta dois amigos que viveram algo mais forte e agora têm medo de ter estragado tudo. Centrado, essencialmente, numa longa e peculiar conversa, este é um conto que evoca uma estranheza que nunca se desvanece. Mas que, apesar disso, consegue cativar.
Vem Comigo narra uma interrupção numa relação conflituosa. Também bastante peculiar e deixando certas perguntas em aberto, marca principalmente pela reflexão sobre a luta para salvar quem não quer ser salvo.
Memórias de infância e uma quase vingança póstuma fazem a história de Caroço da Maçã Michigan, um conto breve e também peculiar, mas, apesar disso, estranhamente cativante.
Os Reincarnados fala de um morto com vontade de voltar para o que perdeu. Mais extenso e mais pausado que a maioria dos contos deste livro, tem, também a sua medida de estranheza. Mas, com uma emotividade surpreendente e um final realmente impressionante, acaba, por ser, acima de tudo, uma história memorável.
Segue-se Remembrance, Ohio, história de um estranho casal. Neste conto, quase tudo é misterioso e muito pouco tem uma resposta esclarecedora. Consegue ser uma leitura intrigante, o final é, de facto, surpreendente, mas o que prevalece é, ainda e sempre, a impressão de estranheza.
Em Se os Caminhos Têm de se Cruzar de Novo, uma despedida desperta memórias de um passado comum. Simples, mas comovente, uma história de acasos e de destinos comuns. E mais um conto impressionante.
A Menina Appletree e Eu fala de um homem que se sente velho e da forma de ultrapassar essa situação. Mais um conto breve e simples, mas com uma emotividade cativante, principalmente no que diz respeito à cumplicidade entre o casal.
Um Encontro Literário fala de um homem cujo comportamento é moldado pelos livros que lê. Cativante e divertido, narrado com uma certa leveza, conta uma história improvável com total naturalidade.
E, por fim, um poema, América, um olhar sobre o país pelos olhos de quem sonha outros sonhos. Simples, mas belo.
O que fica, então, terminada a leitura destes contos, é uma impressão de cenários repletos de estranheza e de fascínio, nos quais se situam histórias surpreendentes, memoráveis, peculiares... sempre cativantes. A soma de tudo é, pois, uma boa leitura.
Sem comentários:
Enviar um comentário