A mente de Donald Clement é um labirinto de salas infinitas, cuidadosamente imaginadas para conter as barreiras com que esconde os mais sombrios momentos da sua realidade. Aí, fala com o seu psiquiatra e mostra-lhe os poderes impossíveis da sua imaginação. Tudo parece ser possível – criar, destruir, matar e até devolver à vida. Mas a verdade que Clement tenta esconder é avassaladora. Bernadette, o amor da sua vida, não corresponde aos seus sentimentos. E, sabendo isto, só as suas salas podem mantê-lo estável.
Alternando entre perspectivas, locais e situações – a grande maioria fruto da imaginação de Clement – esta não é propriamente uma narrativa linear. A verdade é esquiva e, ao longo das muitas salas mentais da mente de Donald Clement, o que é real e o que apenas existe no seu pensamento não se distinguem verdadeiramente. Por isso, leva algum tempo a assimilar este estilo de narrativa e, no fim, ficam mais perguntas que respostas sobre o que realmente se passa na vida de Clement.
É, contudo, estranhamente fascinante este mundo de estranhas possibilidades, em que tudo parece ser possível, mas em que a mente do protagonista gira apenas em torno da sua Bernadette. Às vezes, é encantador. Outras, dá lugar a episódios mais assustadores. E muito do que acontece pode não ser real, mas a forma como Clement parece viver esses momentos confere-lhes uma estranha e fascinante intensidade. Assim, o entendimento vem devagar, mas, no entretanto, a viagem é muito intrigante e percorre os mais estranhos cenários mentais.
Além disso, apesar de haver algumas descrições bastante longas – o que é natural, dado o peculiar cenário deste livro – os capítulos relativamente curtos e a fluidez da escrita dão à narrativa uma sensação de naturalidade. Tudo parece fluir ao ritmo certo, parecendo progredir em direção a muito maiores revelações. E quando esses momentos mais intensos acontecem… bem, então tudo muda, porque, quando uma barreira cai, algo tem de tomar o seu lugar.
Estranho e complexo, mas estranhamente cativante, tudo se resume a uma história intrigante e peculiar. Uma história em que está tudo na cabeça – o que não torna nada disso menos real. Um livro interessante, portanto, e uma boa leitura.
Título: Infinite Rooms
Autor: David John Griffin
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário