Severine era a rapariga da porta ao lado e, embora nem todos
no grupo gostassem dela, acabou por passar muito tempo com eles durante a semana
que passaram em França. Tudo acabou com uma grande discussão e com o
desaparecimento da francesa, mas nunca mais voltaram a ouvir falar em Severine.
Até agora. Passou uma década e o corpo de Severine foi encontrado dentro de um
poço. Agora, o grupo de amigos está novamente a ser investigado e, embora
pareça não haver provas sólidas a ligar nenhum deles ao caso, o investigador
responsável parece ter a sua teoria. Kate, Seb, Tom, Caro e Lara são uma vez
mais arrastados para o passado. E, quando Kate dá por si com tudo a perder,
começa a questionar o que realmente aconteceu naquela semana.
Narrado da perspectiva de Kate, mas explorando motivos e
possibilidades de todos os elementos do grupo, um dos aspectos mais
impressionantes neste livro é quão facilmente se torna viciante. Severine e o
que lhe aconteceu estão algures no passado, mas, quando o passado regressa,
traz consigo uma série de memórias difíceis e de tensões e coisas não
totalmente superadas. E assim, é fácil entrar na pele de Kate, compreender as
suas dúvidas e suspeitas, mas também as suas ânsias e arrependimentos. E,
quando novas revelações começam a emergir e as possíveis explicações começam a
vir à superfície, descobrir o que acontece a seguir torna-se quase irresistível
e é impossível parar de ler antes do fim.
Ainda que a morte de Severine seja a base desta história, é
curioso reparar que alguns dos seus melhores momentos não vêm do caso, mas da
rede de tensões e relações que o rodeia. O que aconteceu em França não foi só a
morte de Severine, mas também que a verdadeira natureza de algumas das
personagens começou a revelar-se. E, ao ver isto de um momento no futuro, tudo
se torna fascinante: sentimentos que duraram muito para lá do seu tempo;
desconfianças e aversões que se mantiveram durante anos; amizades que
perduraram – mas que começam agora a ser abaladas. E há também um aspecto
profissional na vida de Kate, e também na de Caro, que dá a situação de ambas
uma perspectiva diferente.
Mas voltando às personagens. Embora tenham passado essa
semana juntos em França devido às suas ligações comuns, há muitas diferenças
entre elas. Algumas geram empatia imediata – a começar obviamente por Kate, mas
não só – enquanto outras inspiram uma aversão quase instantânea. E isto
torna-se particularmente interessante porque, quando as revelações surgem,
também confirmam a validade destes sentimentos, o que pode tornar o final um
pouco menos imprevisível, mas torna o caminho muito mais intenso.
E depois há o fim, que surpreende, não pela identidade do
culpado, mas pela forma que as revelações assumem – e também pelo contraste
entre as falhas do sistema e a espécie de justiça poética que acaba por se
manifestar. Não é o final perfeito que as personagens esperavam alcançar – mas,
dadas as circunstâncias, é o final mais adequado.
Trata-se, pois, de um livro que tem na base um homicídio,
mas que se torna muito mais do que a história da sua investigação. Intenso,
viciante e com um grupo de personagens bastante impressionante, cativa desde os
primeiros momentos e não para de deixar a sua marca até ao fim. Muito bom.
Título: The French Girl
Autora: Lexie Elliot
Origem: Recebido para crítica
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