Depois de ver o seu primeiro amor morrer-lhe nos braços, Nora Reed, filha de um influente comerciante, aceita um casamento de conveniência com Elias Fortnam, proprietário de uma plantação de açúcar na Jamaica, na esperança de aí realizar o sonho que nunca viveu com Simon. Mas a realidade é muito mais complexa do que os seus sonhos de juventude. A vida nas plantações implica o recurso a trabalhadores escravos, algo que, embora contrário às suas convicções, Nora tem de aprender a aceitar. E, quando seres humanos se tornam propriedade, seguem-se as crueldades e a revolta. Nora tem de aprender a viver naquele novo mundo, com um marido que não ama e que, a cada novo dia, se revela um pouco mais repulsivo. Mas o amor continua à espreita, mesmo por entre as provações. E talvez seja ali que Nora irá finalmente superar a perda...
Começar a destacar qualidades num livro em que tudo é mágico e todas as suas facetas se conjugam num equilíbrio perfeito não é propriamente fácil, mas, no caso deste livro, há desde logo um ponto que é preciso destacar: a escrita. Sarah Lark escreve sobre tempos e locais longínquos e fá-lo descrevendo tudo ao pormenor. E, todavia, nunca a história se torna demasiado descritiva e muito menos maçadora. É que há na escrita desta autora uma tão maravilhosa fluidez que é fácil visualizar o cenário, imaginarmo-nos lado a lado com Nora Reed ante tudo aquilo que precisa de enfrentar e sentir com as personagens - não só com Nora, mas também com as outras figuras centrais - o impacto daquilo que estão a viver.
É uma magia que começa na escrita - mas que se estende a todos os outros aspectos. O percurso é longo e cheio de tribulações, e a forma como a autora constrói as suas personagens torna praticamente irresistível a vontade de querer continuar a acompanhar esse percurso. Além disso, nunca nada é fácil, mesmo quando as possibilidades são muitas. E este caminho de escolhas difíceis, de duras perdas, de crueldade, de sofrimento e, enfim, talvez de superação está de tal modo repleto de momentos comoventes, angustiantes, ternos e surpreendentes que é impossível evitar que a viagem e seus protagonistas fiquem gravados no coração.
Há, além disso, todo um mundo de questões relevantes neste livro, ou não se passasse grande parte da história numa plantação. A forma como os senhores das plantações vêem os escravos, com toda uma série de argumentos rebuscados para justificar que tudo fique na mesma, e a crueldade que gera novas crueldades, evocam na perfeição o lado mais sombrio da época em que o enredo decorre. E a este cenário global, caracterizado com precisão e sem perder de vista as suas complexidades, a autora vem acrescentar ódios e vinganças pessoais das personagens, numa teia intrincada, mas fascinante, de percursos individuais num todo mais vasto. É uma história de escravos e de senhores - e é a história de Doug, Nora e Akwasi. Uma história feita de crueldades injustificadas, de amor em lugares insuspeitos e, principalmente, de personagens complexas, nenhuma delas perfeita, mas todas profundamente humanas.
É uma estranha magia, pois, a que vive nas páginas deste livro. Um livro relativamente extenso, mas em que mal se dá pelas páginas a passar, tal é o impacto da história, a força dos sentimentos que as personagens despertam e a poderosa vastidão de um cenário onde tudo marca, tudo surpreende... e tudo comove. Maravilhoso.
Título: A Ilha das Mil Fontes
Autora: Sarah Lark
Origem: Recebido para crítica
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