Zack Herry tem apenas vinte e sete anos, mas ocupa já uma posição bastante sólida na polícia de Estocolmo. O que não lhe conquistou grandes simpatias, até porque há quem pense que o passado sombrio lhe deu uma grande ajuda. Mas não basta o sucesso para viver em paz - não quando os fantasmas do passado lhe toldam o discernimento e o arrastam para os vícios. E, com um caso complexo em mãos, Zack terá primeiro de se controlar a si próprio para descobrir os responsáveis pelo homicídio de seis mulheres tailandesas - e sobreviver ao processo.
Com um registo quase cinematográfico e um cenário surpreendentemente complexo, a grande qualidade deste livro e o primeiro aspecto a sobressair é o delicado equilíbrio que envolve todas as suas facetas. O caso em mãos é delicado e há sempre algo a fazer e algo de novo a acontecer, o que confere ao enredo um ritmo de acção constante. Mas há também memórias do passado, dilemas pessoais e um cenário global feito de teias de influências, o que confere à narrativa uma maior complexidade sem retirar ao enredo nenhuma da sua intensidade.
Também particularmente notável é a construção das personagens, a começar naturalmente por Zack. Zack Herry é uma figura contraditória, com uma história trágica que o levou para o lado dos bons, mas com uma posição perante o mundo que é toda ela em tons de cinzento. Nem sempre se cinge à lei, nem todas as suas relações são imaculadas e, ainda que o quebrar das regras produza resultados, as consequências são também, por vezes, devastadoras. E este protagonista em luta consigo mesmo ganha ainda um maior impacto pelo facto de estar rodeado de figuras igualmente complexas: Deniz, com a sua história difícil; Douglas, com as suas escolhas ambíguas; Sirpa, com as motivações certas e os métodos menos claros. Tudo figuras intrigantes e capazes de acrescentar algo de único ao enredo.
Quanto ao caso em si, são muitos os aspectos notáveis: a brutalidade envolvida, a complexidade do esquema, a forma como a influência dos poderosos acaba por facilitar certos caminhos e a relativa impunidade de que alguns parecem gozar. Tudo isto cria um enredo complexo e marcante, não só pelos acontecimentos em si, mas pelas questões relevantes que emergem desta abordagem. E quanto a Zack... bem, este é apenas o primeiro volume da série (ainda que o caso central encontre resolução), pelo que a muita curiosidade que fica acerca dos seus próximos passos deixa também uma enorme vontade de ler os livros seguintes.
Intenso, complexo e de uma moralidade ambígua que torna tudo mais fascinante, trata-se, pois, de um livro que cativa desde as primeiras páginas e que mantém os seus mistérios até ao fim. Um belíssimo início de série e um protagonista a acompanhar.
Título: Zack
Autores: Mons Kallentoft e Markus Lutteman
Origem: Recebido para crítica
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