domingo, 5 de agosto de 2018

Areias Brancas (Geoff Dyer)

Viajar pode ser uma experiência reveladora - mas não necessariamente segundo as expectativas criadas. Às vezes, vai-se a um local onde se passam dias na ânsia de o deixar, e só depois é que a viagem se torna memorável. Outras, tem-se um objectivo em mente e, apesar de todos os esforços, esse fica por concretizar. E outras, descobrem-se locais inexplicáveis, com uma história vastíssima, mas que não são o que pareciam ser. De todas estas experiências - e até de alguns incidentes de percurso - nasce este estranho e cativante livro.
Sendo, essencialmente, um livro de viagens, é apenas de esperar uma considerável componente descritiva. Mas começam logo aqui as surpresas: há, de facto, vastas descrições, tanto de locais, como de experiências, pessoas e elementos históricos, mas num registo bastante peculiar. Nos locais, porque o autor acrescenta-lhe um perspectiva pessoal, que chega até a surpreender, por estar muito longe da sensação de espanto reverente que, às vezes, domina este tipo de livro. Nos restantes elementos, por abrir as suas próprias percepções, não se cingindo ao lado bom da experiência, mas exprimindo também os contrastes e contradições.
Claro que há também uma vasta dose de informação - e um amplo conjunto de referências artísticas - o que, tornando embora a visão mais completa, torna também o texto mais pausado. Ainda assim, é sempre uma experiência interessante descobrir novos locais e personalidades. Além de que, ao acrescentar ao percurso os seus episódios pessoais mais invulgares, o autor torna a viagem mais intensa, peculiar... e, nalguns casos, mais divertida.
E há ainda o que fica depois da viagem: percepções do mundo, pensamentos surpreendentes, laivos de humor por entre uma análise mais vasta e introspectiva de propósitos. Frases notáveis que surgem quando menos se espera e que, mesmo quando o texto parece perder-se um pouco em longas explicações, acrescentam um elemento de surpreendente profundidade. Um olhar pessoal por detrás dos traços do lugares, que torna mais memoráveis as impressões e mais duradouro o seu impacto.
No fim, fica a impressão de um livro de viagens que não é bem um livro de viagens. Uma estranha aventura, pessoal e intransmissível, mas que transmite algo de básico e essencial que vai muito além dos lugares e das pessoas. Estranho, contraditório até, mas muito interessante. E uma boa leitura.

Título: Areias Brancas
Autor: Geoff Dyer
Origem: Recebido para crítica

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