1948. O mundo do cinema vive uma fase ambígua, em que grandes sucessos convivem com um controlo quase absoluto e um sistema que persegue todos os culpados - ou suspeitos - de actividades anti-americanas. E é neste contexto que uma actriz é encontrada morta, no que tudo indica ter sido um trágico suicídio. Só que Charlie Parish, guionista, sabe que não foi bem assim e, por mais que tente aceitar a necessidade de esquecer e seguir em frente, a sombra de Val continua a persegui-lo. Além disso, contou o segredo a um amigo igualmente inconformado. E nenhum deles consegue resistir ao impulso de descobrir a verdade - mesmo sabendo que não podem ganhar...
Não é propriamente fácil escolher um ponto por onde começar a falar sobre este livro - e, no entanto, quase que basta uma palavra: brilhante. É que são tantos os elementos notáveis e é tão perfeita a conjugação entre todos eles que a verdade é que não há nada a dizer que não seja bom. Mas talvez surja daqui um bom ponto de partida - o equilíbrio. O equilíbrio entre um cenário meticulosamente construído, associado a elementos de contexto muito precisos, tanto na imagem como nos diálogos, e a um contraste entre glamour e devastação que é simplesmente arrebatador.
Basta o início para criar impacto, a imagem de uma mulher morta em circunstâncias suspeitas e de um inocente conhecedor de uma verdade em que ninguém acreditará. Sente-se logo esse contraste - entre a justiça e a realidade - e a inevitável desolação que terá de vir a seguir. E, no entanto, há mistério. Há procura. E há respostas: respostas difíceis, desenvolvimentos inesperados e um caminho feito tanto de perigos como de revelações, que culmina num final tão intenso quanto devastador.
É difícil dizer tudo o que importa sem revelar demasiado, até porque uma boa parte do fascínio vem do processo de desconstrução dos meandros de Hollywood. Mas bastam os contrastes para se ficar com uma boa ideia: sucesso e controlo, luz e sombra, sucesso exterior e demónios interiores. Glamour... e segredos. Demasiados segredos, do tipo que destrói vidas inteiras. E marca, principalmente quando, no centro de tudo, está um protagonista tão fascinante.
É um livro grande, até porque inclui uma boa quantidade de extras que só contribuem para tornar o todo ainda mais notável. E, todavia, devora-se de uma assentada. Porquê? Porque, a partir do momento em que se começa a desvendar este estranho mundo, é irresistível o impulso de continuar. E há tanto para descobrir nesta requintada mistura de poder e desolação: nos cenários, no ambiente, no próprio percurso das personagens e no que globalmente representam.
Que mais dizer, então? Que prende, que fascina e que se grava na memória de quem o lê. Que é ao mesmo tempo belíssimo e devastador. E que, por isso, no fim tudo se resume à mesma palavra com que comecei: brilhante. Brilhante, brilhante, brilhante. E imperdível, claro.
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Origem: Recebido para crítica
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